Um dos fatores importantes para conseguir engravidar é a compatibilidade do sistema imunitário dos futuros pais, pois caso contrário o útero da mãe pode acabar identificando o embrião como um corpo estranho a combater. Nos tratamentos com óvulos doados essa atenção deve ser redobrada conforme as conclusões do estudo realizado por especialistas do IVI apresentado durante o 7º Congresso Internacional IVI de Bilbao, na Espanha.
Falhas de implantação do embrião no útero materno, abortos de repetição e pré-eclâmpsia são algumas complicações que, às vezes sem respostas, ocorrem em tratamentos de Ovodoação, ou seja, nos tratamentos de Fertilização in Vitro que utilizam óvulos de doadoras. A origem destas complicações pode ser imunológica conforme revelou o estudo depois de mais de 2 anos de pesquisa.
204 pacientes de tratamentos de ovodoação foram acompanhadas pela equipe liderada pela Drª Diana Alecsandru, imunologista da clínica IVI Madri, que classificou todos os fatores imunológicos que podem interferir em um tratamento de ovodoação (mãe, pai, doadora, filhos nascidos anteriormente, amostra de tecido de aborto se ocorrido e etc.).
Embrião pode ser confundido com um corpo estranho a combater
Todas as mulheres dispõem de determinadas células receptoras encarregadas de reconhecer o embrião quando este chega ao útero materno. Estes receptores se chamam KIR e se dividem em três grandes grupos genéticos (KIR AA, KIR AB e KIR BB).
Em tratamentos de reprodução humana com óvulos próprios, assim como na gravidez natural, os receptores KIR somente identificam meia parte estranha no embrião, já que o embrião é composto de 50% de material genético paterno e 50% de material genético materno. No entanto, nos tratamentos com óvulos de doadoras, o embrião a ser recebido contém duas partes genéticas alheias ao corpo da gestante, além disso a “carga” de corpos estranhos a ser reconhecida é maior quando é realizada a transferência de mais de um embrião.
Todo ser humano dispõe de antígenos nas células denominadas HLA-C, que por sua vez se dividem em dois grandes grupos HLA-C1 e HLA-C2. Esta é uma denominação genética descoberta recentemente parecida a que se pode dar, por exemplo, aos diferentes grupos sanguíneos. O estudo realizado pela Drª Alecsandru revelou, entre outras coisas, que a união dos receptores KIR AA com antígenos HLA-C2 é uma combinação de risco para o ser humano.
Quando identificada esta combinação, por inteligência do próprio sistema imunitário da futura mãe, os receptores KIR AA do útero irão combater um embrião com antígenos HLA-C2 e, por isso, o risco de falha de implantação, aborto e outras complicações se disparam.
Portanto, o estudo concluiu dois pontos importantes para o sucesso dos tratamentos de ovodoação:
- Em primeiro lugar, a importância de realizar a classificação dos KIR e HLA-C, tanto na mãe, quanto no pai e na doadora de óvulos. Através de uma simples análise de sangue é possível identificar a denominação genética de cada um dos envolvidos. Esta classificação permitirá conhecer as compatibilidades entre eles, o que é uma informação preciosa para escolher a doadora mais adequada para o tratamento de fertilidade em questão.
- Em segundo lugar, a vantagem de apostar em tratamentos de ovodoação com a transferência de apenas um embrião para que o útero identifique o menor número de elementos estranhos possível e, dessa forma, a chance de gravidez e nascimento de bebê saudável seja maior.
Apesar de que os resultados da pesquisa sejam de pacientes da clínica IVI Madrid, gradualmente o grupo irá abranger a aplicação aos outros centros de fertilidade espalhados pelo mundo. Por enquanto o estudo está sendo aplicado apenas para pacientes com histórico de complicações prévias como aborto de repetição, falha de implantação de repetição, pré-eclâmpsia, entre outros fatores potencialmente associados ao fator imunológico.
Com esta pesquisa nossos especialistas deram mais um passo importante para o avanço no aperfeiçoamento dos tratamentos da medicina reprodutiva. Alinhar as características imunológicas das doadoras com as receptoras mostrou ser mais um critério importante para a seleção de doadoras e também para o sucesso da Fertilização in Vitro.
Além disso, se a transferência de um único embrião ao útero materno (SET) já mostrou seus benefícios para prevenir as gestações múltiplas, sua relevância para os tratamentos de ovodoação se torna ainda maior por fatores imunitários do ovário receptor.
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