O estudo realizado pelo IVI (Instituto Valenciano de Infertilidade) e apresentado hoje no Congresso Europeu de Reprodução Humana demonstra como uma adequada seleção de doadora de óvulos em função de sua compatibilidade genética com o útero da receptora permite reduzir a taxa de aborto e falhas de implantação nos tratamentos de ovodoação em mais de 85%, quando o sistema imunológico da futura mãe está rejeitando o embrião. Esta base científica pode aumentar a taxa de gravidez e reduzir problemas das pacientes relacionados com a hipertensão ou a pré-eclâmpsia.
“Comprovamos com a investigação que ao selecionar uma doadora compatível com o útero da futura mãe, é possível chegar a uma taxa de gravidez de 86%; um resultado incrível quando comparado à taxa de 31% obtida quando esta informação não era considerada. Com relação aos casos de abortamento, reduzimos de 94% para 8% selecionando geneticamente a doadora pela compatibilidade com o útero das pacientes que participaram do estudo”, explica Dra. Diana Alecsandru, imunologista da clínica de reprodução humana IVI Madri e autora do estudo titulado “Maternal Killer-cell Immunoglobulin-like Receptor (KIR) and fetal HLA-C compatibility in ART- oocyte donor influences live birth rate” junto com Dr. Juan Antonio García Velasco, diretor do IVI Madri.
Por que o útero de certas pacientes rejeita o embrião? No útero existem células que possuem receptores que são denominados KIR, estes receptores ajudam a reconhecer e implantar o embrião. “A parte materna do embrião (referente ao óvulo) é reconhecida automaticamente por conter informação genética da própria pessoa, enquanto a paterna não, razão pela qual certas pacientes têm dificuldades de obter a gestação, dependendo do seu perfil genético uterino. Os receptores KIR devem encaixar perfeitamente com a parte paterna e com a materna, quando o óvulo é doado, para não ser interpretado como um elemento estranho”, explica Dra. Genevieve Coelho, especialista em fertilidade e diretora da clínica IVI Salvador, do mesmo grupo de medicina reprodutiva que realizou o estudo.
A pesquisa foi realizada entre janeiro e dezembro de 2015, com uma amostra de 30 mulheres – com repetidas falhas reprodutivas por razão desconhecida – que foram submetidas a um total de 112 ciclos de reprodução humana assistida com óvulos doados. Ao analisar os dados obtidos, foi comprovado que quando ocorria uma incompatibilidade entre a mãe e a parte paterna do embrião, ao escolher uma doadora compatível com a mãe e optar pela transferência de um único embrião (SET – Single Embryo Transfer), a taxa de recém-nascidos vivos por ciclo passou de 0% a 82% na amostra estudada. Em casos de pacientes com alterações imunológicas, como as participantes do estudo, a transferência de dois ou mais embriões ao útero influência de forma negativa o sucesso reprodutivo. Se além disso, agregamos o uso de óvulos doados, os fragmentos estranhos que o útero precisa assimilar são ainda maiores, aumentando o risco de rejeição do embrião.
O estudo realizado abre uma nova linha de investigação para trabalhos com uma maior amostra, como o que está sendo aplicado atualmente pelo próprio IVI, onde participam 200 pacientes e cujo resultados podem aportar melhorias para a seleção de doadores de sêmen e óvulos através de um processo mais eficiente, seguro e com melhores resultados.
Sobre o IVI Com sede em Valência, na Espanha, o Instituto Valenciano de Infertilidade (IVI) iniciou suas atividades em 1990. Possui mais de 50 clínicas em 11 países, incluindo Brasil, e é líder em medicina reprodutiva. O grupo conta com uma Fundação, um programa de Docência e Carreira Universitária.