Durante o Congresso Anual da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE2017), que está acontecendo esta semana em Genebra, na Suíça, o Instituto Valenciano de Infertilidade (IVI) apresentou as conclusões de três estudos focados em melhorar o diagnóstico e tratamento da infertilidade masculina.
Aproximadamente 15% da população mundial enfrenta problemas para conceber um filho; no entanto, a infertilidade continua sendo um assunto que muitas pessoas preferem não falar abertamente, principalmente quando se trata de fatores masculinos.
Historicamente a dificuldade de engravidar se atribuía principalmente às mulheres, razão pela qual muitas das pesquisas e tratamentos de reprodução humana estão centrados nelas. Porém, em 4 de cada 10 casos, a infertilidade está associada ao homem –exatamente a mesma quantidade que está relacionada com os fatores femininos –, portanto, os avanços na seleção de espermatozoides são de grande importância para melhorar os resultados dos tratamentos de fertilidade.
Atualmente a avaliação da fertilidade do casal realizada nos homens é feita através do espermograma, que é o exame que estuda a mobilidade, aspecto morfológico e nível de concentração dos espermatozoides. “Este teste não considera os aspectos genéticos (cromossômicos), nem a quantidade de material genético dos espermatozoides”, explica Dr Agnaldo Viana, especialista em reprodução humana da clínica IVI Salvador, parte do grupo que realizou as pesquisas. “Apesar do espermograma incluir variantes de normalidade, algumas alterações cromossômicas não identificadas no exame são a causa de uma qualidade mais baixa do sêmen, que consequentemente afeta os resultados de gravidez conforme a pesquisa realizada por nossa colega de trabalho na Espanha, a Dra Cristina González, coordenadora dos laboratórios de Andrologia do grupo IVI”, afirma Dr Agnaldo.
Exames complementares ao espermograma para um diagnóstico completo da fertilidade:
– Cariótipo
Para contemplar os aspectos cromossômicos, o paciente deve realizar o exame de cariótipo, que é uma “fotografia” dos cromossomos de uma célula, realizado a partir de uma amostra de sangue comum. O cariótipo pode identificar fatores de infertilidade imperceptíveis pelos exames morfológicos básicos realizados no casal.
– Fragmentação de DNA espermático
O estudo do DNA espermático utiliza uma técnica que consiste em projetar uma luz laser nas células que permite analisar diferentes características celulares. É possível realizar este exame com a mesma amostra coletada para o espermograma. Este teste identifica a eventual existência de anomalias no DNA dos espermatozoides, o que influencia na qualidade do futuro embrião gerado a partir da fecundação do óvulo, conforme indica a pesquisa do Dr Alberto Pacheco, diretor do laboratório de andrologia do IVI Madri, apresentada no evento.
Durante a formação dos espermatozoides, seu conteúdo genético é reduzido para que quando o óvulo seja fecundado, o embrião não tenha informação genética a mais. Esta fase do processo pode falhar. “Neste estudo observamos que 20% dos pacientes apresentaram alterações celulares, uma taxa muito superior aos 8% identificados no grupo de doadores de sêmen” explica Dr Alberto, que alerta sobre o impacto desta informação na hora de identificar embriões viáveis, ou seja, que podem gerar bebês com saúde, para a transferência ao útero materno nos tratamentos de Fertilização in vitro.
– Biópsia testicular em casos mais graves
O estudo coordenado pelo diretor da Fundação IVI, Dr Nicolás Garrido, identificou que a biópsia testicular pode ser uma alternativa para melhorar os resultados de gravidez nos casos de rupturas e lesões no material genético dos espermatozoides, algo também conhecido como a fragmentação do DNA.
Normalmente nos tratamentos de Fertilização in Vitro a coleta do sêmen é realizada por meio de esperma ejaculado, inclusive nos casos de baixa concentração de espermatozoides, que são os casos onde o risco de fragmentação de DNA é superior.
O estudo realizado identificou que a fragmentação do DNA foi 24% mais baixa ao obter a amostra de espermatozoides através de uma biópsia testicular. Esta melhora permite reduzir o risco de aborto e obter uma taxa superior de recém-nascidos vivos. Segundo a diretora do laboratório de embriologia da clínica IVI Salvador, Michelle Borges, esta técnica é mais invasiva, mas deveria ser considerada em determinados casos, pois permite obter os espermatozoides em uma etapa anterior às rupturas e lesões.