O sono é determinante do bem-estar físico e emocional. A Organização Mundial da Saúde recomenda pelo menos oito horas de sono diariamente. Mas vivemos em uma sociedade que tende a estar “ligada” todo o tempo. As pessoas sentem a necessidade de ser cada vez mais produtivas, abrindo mão, muitas vezes, do seu tempo de descanso para dar conta das tarefas diárias.
Isto provoca uma tendência a perturbações, que se transformam em prejuízos à qualidade e duração do sono que é algo importantíssimo para o corpo humano. Por conta disso, de maneira geral, a má qualidade do sono está relacionada a diversos problemas de saúde e bem-estar.
Enquanto dormimos, o organismo realiza o reparo de suas células e respectivas funções. Portanto, quando somos privados desse momento de reparo, como consequência, o funcionamento do nosso organismo sofre um desequilíbrio.
E quanto menor o tempo de sono diário, o sistema imunológico vai ficando fraco, ficamos mais vulneráveis ao estresse e, também, às doenças. Isso quando se consideram os resultados em curto prazo.
No entanto, essa desregulação também traz efeitos a longo prazo. E a infertilidade é um deles. As alterações na rotina do sono promovem distúrbios metabólicos e interferências no ambiente hormonal necessário para a reprodução.
Sono e infertilidade da mulher
Quando uma pessoa não dorme a quantidade de horas necessárias ou não consegue ter um sono de fato reparador, ela pode ter problemas em diversos aspectos, entre eles a fertilidade. Ou seja, dormir pouco pode tornar homens e mulheres menos férteis.
A qualidade de sono influencia de forma poderosa no sistema hormonal (responsável por controlar o ciclo e a ovulação) da mulher. Assim, mulheres que dormem mal, ou têm algum distúrbio do sono, apresentam um nível mais alto de hormônios do estresse, o que pode inibir um ciclo saudável de fertilidade.
Alguns distúrbios do sono estão associados à irregularidade menstrual, aumento de abortos, dismenorreia, taxas reduzidas de concepção e menor peso do bebê ao nascer.
Quando uma mulher dorme pouco, pode desequilibrar a produção hormonal. Isto afeta, por exemplo, os hormônios LH (hormônio luteinizante) e FSH (hormônio folículo-estimulante), que têm ação direta na receptividade uterina. Além de diminuir os níveis de progesterona e do hormônio antimülleriano.
Nas mulheres com reserva ovariana baixa, observa-se três vezes mais distúrbios do sono. Na esfera reprodutiva, 30% das mulheres inférteis podem sofrer de distúrbios do sono.
Sono e infertilidade no homem
Em homens com transtornos do sono, pode haver uma baixa contagem de espermatozoides. Além de uma piora na motilidade espermática, os espermatozoides podem exibir mais anormalidades.
A falta de um sono de qualidade influencia diretamente a hipófise, uma glândula do cérebro que é responsável por estimular os testículos e a disfunção erétil pode aparecer em homens que não dormem bem.
Geralmente, são homens com hábitos de vida menos saudáveis. Consomem mais álcool e cafeína, têm maior índice de massa corporal e fumam. Naqueles com apneias noturnas, o estresse oxidativo condiciona a elevados níveis de fragmentação do DNA espermático, piorando as taxas de gravidez e índices de aborto.
“Uma boa noite de sono é fundamental para preservar o bem-estar tanto de homens quanto de mulheres. Além disso, como vimos, pode ser decisivo em relação ao quadro de fertilidade. Pessoas estressadas e que não dormem, podem desregular hormônios e serem mais propensas à infertilidade”, explica a médica do IVI Salvador, Isa Rocha.
Melatonina e a fertilidade
Produzida no sistema nervoso central pela glândula pineal (pequena glândula situada no cérebro, que ajuda a controlar o ciclo natural de horas de sono e de vigília), se conhece a melatonina como “o hormônio do sono”. Ela regula os ciclos circadianos (dormir-acordar).
Estimula-se sua produção pela escuridão e inibida pela luz e o hormônio tem papel benéfico e recuperador na qualidade do sono. Quantidades muito pequenas são encontradas em alimentos como carnes, grãos, frutas, legumes e até no vinho tinto.
Uma vez sintetizada, a melatonina não é armazenada na glândula pineal, mas é logo liberada para a corrente sanguínea e outros fluidos corpóreos como bile, saliva, liquor, sêmen, líquido amniótico e fluido folicular.
A melatonina é também um excelente antioxidante natural. A partir dos 30 anos pode prevenir (ou retardar) doenças relacionadas com o envelhecimento e os processos inflamatórios.
Nos eventos reprodutivos como a formação dos folículos ovulatórios (foliculogênese), atrofia dos folículos (atresia folicular), ovulação, maturação dos óvulos e formação do corpo lúteo, há envolvimento de radicais livres.
O que dizem os estudos?
Estudos demonstram que a qualidade dos óvulos e dos embriões depende não só da formação genética e cromossômica, mas também do ambiente onde os óvulos se desenvolvem. Assim, a melatonina, com sua ação antioxidante, é essencial e tem papel benéfico no processo reprodutivo.
Além de sua ação antioxidante, a melatonina também influencia na função ovariana através da regulação da liberação de gonadotrofinas no eixo hipotálamo hipofisário.
Durante o processo de ovulação, se produz grande quantidade de radicais livres. Esse excesso induz a morte celular programada, resultando na atrofia dos folículos. Níveis aumentados de melatonina diminuem a quantidade de radicais livres prevenindo essa atrofia. O folículo é resgatado e continua seu desenvolvimento até se tornar um folículo dominante.
O balanço entre radicais livres e antioxidantes tem papel importante na maturação do oócito e na fertilização. A ação antioxidante da melatonina melhora a qualidade do óvulo. Ela estimula diretamente a liberação de progesterona pelo corpo lúteo e o protege da ação de radicais livres conferindo manutenção da função lútea.
A falta de melatonina está relacionada ainda com endometriose e com a Falência Ovariana Prematura (FOP). Ainda tem papel de supressão em doenças autoimunes, proteção contra radiação e diminuição de efeitos de alguns quimioterápicos. Em pacientes com Síndrome dos Ovários Policísticos(SOP) há diminuição de melatonina no fluido folicular.
Em pacientes com infertilidade, o tratamento com melatonina melhora a qualidade do oócito além de melhorar as taxas de fertilização e reduzir os danos oxidativos no fluido folicular. Entretanto, o uso de melatonina para pacientes com SOP, FOP e endometriose é limitado.
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