Muita gente imagina que seja uma doença. Mas a trombofilia é uma condição que pode surgir como consequência da gravidez. É justamente por isso que todas as gestantes ou até mesmo aquelas mulheres que ainda estão pensando em engravidar, devem se atentar bastante ao pré-natal e aos exames de acompanhamento que devem realizar normalmente antes da tentativa de gestação. Isso porque a trombofilia pode interferir na gravidez. E pode trazer riscos à saúde tanto da mãe quanto do bebê.
O nome “trombofilia” é um termo médico que indica tendência à trombose. Condição que pode levar ao entupimento parcial ou total das veias. Na gestação, as chances de trombofilia são maiores, já que toda gestante experimenta um aumento da coagulação sanguínea.
Traduzindo: tudo que leva o sangue a circular mais devagar, ou, obstrui total ou parcialmente a circulação sanguínea.
“A trombofilia na gravidez pode levar a abortos precoces, morte fetal, restrição de crescimento intrauterino e prematuridade. Por isso reforçamos sempre a importância de não descuidar dos exames nos prazos certos e do acompanhamento do passo a passo”, explica a médica do IVI Salvador, Dra. Andréia Garcia.
A trombofilia é uma propensão a desenvolver trombose devido a determinados transtornos de coagulação do sangue. Pode ser adquirida ou hereditária. Ser portador não significa estar doente e tão pouco que irá sofrer abortos, apesar de que padecer de trombofilia pode em alguns casos levar episódios de abortos de repetição e complicações durante a gravidez. Mulheres com histórico de trombose precisam de cuidados especiais durante a gravidez para garantir a saúde do bebê.
Fontes médicas estimam que entre 10 a 15% das mulheres sofrem um aborto espontâneo por diferentes causas. A repetição do aborto é muito menos frequente, afeta entre 3 e 5% das mulheres (2 abortos) e menos de 1% (três abortos consecutivos).
Grupo de risco de aborto
O risco de sofrer um aborto espontâneo é maior entre as mulheres com dois casos de abortos anteriores à décima semana de gestação ou um aborto espontâneo após a décima semana. Casos de pré-eclâmpsia e eclâmpsia também são fatores de risco para as perdas gestacionais, assim como entram no grupo de risco mulheres com antecedentes de trombose da paciente e na família e casais que possuem algum fator genético ligado à infertilidade.
A trombofilia em ocasiões é estudada por exclusão, quando outros estudos sobre a causa de aborto não foram conclusivos.
Qual é o médico indicado para fazer o estudo da trombofilia?
A trombofilia é detectada com a ajuda de um hematologista, que baseado em uma avaliação dos antecedentes de aborto e histórico da família irá solicitar exames para a confirmação do diagnóstico.
Por que a trombofilia é um risco para a gravidez?
Quando a trombofilia leva à hipercoagulação do sangue, pode provocar o entupimento das veias ou artérias devido ao aumento da densidade do sangue, que fica mais espesso. Esta obstrução pode provocar problemas de circulação do sangue tanto nas veias da mãe quanto no sangue que chega à placenta, tendo como possíveis consequências:
- Redução do crescimento fetal devido à dificuldade de receber os nutrientes
- Deslocamento da placenta
- Pré-eclâmpsia
- Aborto
- Parto prematuro
Como prevenir o aborto em caso de trombofilia?
Cada caso de trombofilia deve ser tratado de forma personalizada com medicamentos a partir do momento em que a gravidez é confirmada com o objetivo de evitar riscos para a mãe e o bebê. Durante a gestação, a futura mãe deve ser acompanhada por um hematologista.
Nem sempre um quadro de hipercoagulação do sangue irá trazer consequências para a gravidez, mas em todos os casos o acompanhamento deve ser rigoroso.
A causa mais comum de aborto espontâneo é genética
Quando os abortos acontecem antes da décima semana de gestação, a causa mais provável da perda gestacional são as alterações cromossômicas esporádicas que impedem o desenvolvimento correto do embrião. Realizar o teste genético POC a partir de uma mostra do tecido fetal abortado é a medida ideal para identificar se houve uma causa genética relacionada à perda e se esta causa foi pontual ou pode se repetir. No entanto, em muitas ocasiões a paciente e equipe médica que auxilia no processo de expulsão natural ou por curetagem não está orientada para realizar a coleta de material para a análise laboratorial.
O risco de sofrer uma segunda perda em uma gestação futura é aproximadamente entre 10-15%, podendo ser superior de acordo com a idade materna ou em caso de alterações no cariótipo do casal.
Muitos casais em tratamento de reprodução humana que querem evitar as causas genéticas do aborto recorrem ao screening genético pré-implantacional (PGS), que é o estudo genético do embrião para detectar eventuais alterações cromossômicas que podem provocar falhas de implantação após a transferência do embrião ao útero materno, aborto ou nascimento de bebê com doenças graves. Vale reforçar que o estudo genético do embrião não está relacionado nem evita complicações ligadas à trombofilia.
Tipos de trombofilia e consequências para mães e bebês
Existem dois tipos de trombofilia. Uma é a trombofilia hereditária, quando a condição está ligada a fatores genéticos. Outra é quando essa condição é adquirida.
Neste caso, ela pode ser desencadeada por diversos fatores que aumentam a coagulação do sangue. Entre eles estão o uso de estrogênios, terapia de reposição hormonal, viagens aéreas prolongadas (por causa da pressão), cirurgias, imobilização e também a gravidez.
Quando a trombofilia é adquirida, o quadro mais comum é o da síndrome antifosfolípide, ligada à produção de um tipo de anticorpo que estimula a coagulação. Essa condição representa cerca de 60% dos casos.
Como dissemos acima, a trombofilia pode trazer uma série de agravamentos à gestação, com consequências graves para o bebê, como abortos precoces, morte fetal ou prematuridade.
Mas o problema também atinge as mães. Uma das complicações mais sérias é a embolia pulmonar, que ocorre quando as artérias do pulmão ficam obstruídas, podendo levar até à morte.
Em outros casos, as consequências para a mulher podem envolver aborto de primeiro trimestre ou início do segundo trimestre, óbito fetal, pré-eclâmpsia e eclampsia; restrição de crescimento fetal grave e até mesmo descolamento prematuro de placenta.
Entre os principais fatores de risco que podem predispor à trombofilia na gestação estão episódios anteriores de trombose, idade a partir de 35 anos, ter tido câncer, gravidez de gêmeos, pré-eclâmpsia, obesidade, presença de varizes em membros inferiores, paraplegia, anemia falciforme e doenças cardíacas.
Existe um tipo mais grave de trombofilia?
Ao contrário do que muita gente pensa, a hereditária não é a pior trombofilia. A síndrome antifosfolípide costuma ser mais agressiva do que os quadros ligados à genética.
O que pesa mais é o histórico pessoal e familiar da mulher. Se ela já teve um ou mais episódios de trombose, há grandes chances de que isso se repita durante a gestação.
Caso familiares mais próximos (pai, mãe, avós e irmãos) tenham histórico de infarto, AVC ou morte súbita antes dos 50 anos também vale investigar se há relação com a trombofilia.
Os sintomas da trombofilia
O que mais preocupa os médicos é que, em muitos casos, a trombofilia é uma condição assintomática. “Isso reforça a importância do autocuidado. Siga seu cronograma de consultas e exames. Se já está grávida, faça o pré-natal corretamente. Não ache que um deslize nesse período pode passar despercebido. As consequências podem ser muito sérias”, reforça Dra. Andreia.
Mesmo sendo, em alguns casos, assintomática; existem alguns sinais que podem servir de alerta para as mulheres. Inchaço e dor em uma das pernas, dificuldades para respirar e dor torácica. Como esses sinais podem ser facilmente confundidos com os de uma gestação normal ou até mesmo com outros problemas, o acompanhamento médico é fundamental.
Fatores que podem piorar o quadro
A gestação gemelar, por exemplo, aumenta o risco de trombofilia porque a mulher produz mais fatores de coagulação. A desidratação também pode agravar a situação porque diminui a velocidade de circulação sanguínea. Vale mencionar ainda o uso de drogas e o cigarro, assim como o excesso de peso, uma vez que a gordura aumenta os riscos de trombose. Por esse motivo, a gestante deve ficar ainda mais atenta à balança e praticar atividades físicas com regularidade. Quanto mais avançada a idade da mulher, maior é o risco de trombofilia.
Diagnóstico e tratamento da trombofilia
A avaliação da trombofilia inclui testes laboratoriais e a identificação dos fatores de risco. O tratamento deve se iniciar o mais precocemente possível, com a administração de anticoagulantes.
Além disso, devem ser tomadas precauções gerais, como o uso de meias elásticas de compressão graduada; as pernas devem estar elevadas tanto no parto quanto nas primeiras semanas do puerpério; e caso a gestante queira viajar de avião, não se recomenda trajetos longos, com mais de quatro horas.
Vale ressaltar que a trombofilia na gestação configura uma situação de alto risco, portanto, o acompanhamento médico no pré-natal é fundamental para a saúde da mãe e do bebê e deve ser feito de forma rigorosa.
Outros cuidados necessários para as grávidas
Se a mulher for viajar de avião, os exames do bebê têm de estar normais e, mesmo assim, os médicos só costumam liberar trajetos mais curtos. Nesse período, é importante que a grávida se mantenha bem hidratada e tente se alongar durante o voo.
No dia a dia, devem se tomar precauções gerais, como uso de meias elásticas, realização de atividade física e controle clínico e obstétrico regular.
De acordo com o histórico pessoal e familiar, e com os resultados dos exames de trombofilia, pode ser necessário uso de heparina e/ou ácido acetilsalicílico.
Se não for tratada, a síndrome antifosfolípide pode diminuir as chances de ter um filho vivo para 10%. Com o tratamento, essa taxa sobe para 85 a 90%.
Ainda assim, vale o alerta: mesmo com o tratamento a gestação de grávidas com trombofilia é sempre de alto risco. Por isso é preciso fazer um pré-natal rigoroso, acompanhando bem de perto tanto a saúde de ambos.
Comentários estão fechados.