Toda mulher que decide engravidar sabe que algumas concessões precisarão ser feitas para que a gravidez seja saudável. E uma delas é o consumo do álcool. Muitas se perguntam qual a quantidade de álcool que uma grávida pode beber durante a gestação, considerada segura para o feto?!
Uma pergunta simples, mas com uma resposta bem difícil. Amigas que já engravidaram podem te censurar. Ou, dizer que elas mesmas bebericaram durante a gravidez. E, para aumentar ainda mais as dúvidas, alguns médicos proíbem totalmente o consumo, e outros permitem uma taça de vinho ocasionalmente.
Mas, como chegar a uma conclusão? Se informar muito e sempre! Existe uma síndrome chamada SAF (Síndrome Alcoólica Fetal), e todos os anos ela atinge cerca de 119 mil bebês. A causa? A ingestão de álcool ao longo da gravidez. E, de acordo com um levantamento publicado no The Lancet Global Health, durante os nove meses, 10% das gestantes não abdicam da bebida alcoólica.
O resultado disso é que entre 10 e 15 mil pessoas podem apresentar alguma deficiência (problemas de aprendizagem, memória, distúrbios de atenção, fala e audição, dentre outros) provocada pelo consumo do álcool e que pode envolver diferentes sistemas do corpo.
Nem toda futura mamãe que ingerir álcool terá um bebê com SAF. Mas é como um tiro no escuro…
“Não existe uma regra. Cada organismo é um organismo. Mas todas as pesquisas e casos clínicos mostram que há um risco bastante alto nessa relação entre consumo de álcool e gravidez. É preciso estar alerta, caso ter um filho esteja nos planos do casal. E isso vale para ambos”, explica a Diretora Médica da IVI Salvador, Dra. Genevieve Coelho.
Como o álcool afeta o organismo da mulher grávida
Para uma mulher que não esteja grávida é aceitável como consumo seguro até quatro drinks por semana, o que dá um total de 40 mililitros de álcool puro. Uma unidade corresponde a um copo de cerveja, meia taça de vinho, ou meia dose de bebida destilada.
Ou seja, aquela taça de vinho todos os dias durante o jantar já é considerado um consumo alto e que ultrapassa o limite de segurança.
Na mulher grávida o álcool, por se tratar de uma substância, ele atravessa a barreira placentária de maneira livre. Ou seja, o bebê sempre terá a mesma concentração de álcool no sangue que a mãe. Porém, o fígado da mãe consegue processar o álcool circulante. Mas o órgão imaturo do bebê, não.
Por conta disso, alguns estudos mostram que mesmo em quantidades pequenas, o álcool que circula no sangue da mãe, é capaz de provocar alterações nas células do feto, principalmente nos neurônios. Além disso, há muitos anos é comprovado que o álcool é uma droga capaz de acarretar malformações nos bebês.
Desordens do Espectro Alcoólico Fetal (DEAF)
Mães que consumiram álcool durante a gravidez podem dar a luz filhos com um grupo de alterações chamadas Desordens do Espectro Alcoólico Fetal (DEAF). A desordem mais grave é chamada de Síndrome Alcoólica Fetal, ou SAF. Ela provoca malformações, anomalias do sistema nervoso central, atraso no crescimento e prejuízos no desenvolvimento do bebê.
Normalmente, quanto maior a quantidade de bebida alcoólica, maior é o risco de o feto desenvolver SAF. É estimado que de 1.000 bebês, 3 nascem com a síndrome. A incidência de outras DEAF’s é mais difícil de ser estimado porque muitos sinais não são aparentes no momento do nascimento.
É válido ressaltar que as desordens não se tratam somente de malformações. Mas também alterações menos óbvias, como o desenvolvimento intelectual da criança, que só começa a aparecer no final da infância ou início da adolescência. Além de morte súbita do recém-nascido.
Os sinais e os sintomas mais comuns são: malformações nos ossos da face, microcefalia, baixa estatura e baixo peso corporal. Além desses, a criança pode apresentar também déficits de coordenação motora, hiperatividade e déficit de atenção, dificuldade de aprendizagem, atrasos no desenvolvimento da fala, problemas de visão e audição. Tudo isso, além de malformações no coração, ossos ou rins.
Mães que beberam durante os nove meses de gravidez e aparentemente tiveram um filho perfeito, dentro do ponto de vista estrutural, e que apresente um desenvolvimento motor e intelectual satisfatório nos primeiros anos de vida, não tem a garantia de que o mesmo não possa vir a apresentar sinais da DEAF posteriormente.
E vale também lembrar que o consumo de álcool traz riscos à própria gravidez. Elevando as chances de aborto, parto prematuro e morte fetal intrauterina.
Álcool x Fertilidade
No Brasil o consumo de bebida alcoólica é bastante alto. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), 3,3 milhões de pessoas morrem todos os anos em decorrência do álcool. Ainda de acordo com a instituição, a bebida é capaz de aumentar o risco de cirrose hepática, câncer, gastrites, entre outras doenças, além de potencializar as chances de suicídio, acidentes e infertilidade.
Infertilidade? Sim! O consumo excessivo de bebidas alcoólicas também pode causar problemas de fertilidade, tanto em mulheres quanto em homens. Nas mulheres, o álcool pode afetar a produção hormonal feminina, as características sexuais, suspender a ovulação, e diminuir a qualidade dos óvulos.
Além disso, as taxas de fertilidade das mulheres que abusam do álcool durante boa parte da vida também ficam diminuídas. Mulheres jovens alcoólatras podem ter chances de gravidez equiparadas as chances de uma mulher com mais idade.
Nos homens, o álcool reduz os níveis de testosterona, bem como a qualidade e a quantidade de espermatozoides. O álcool atrofia as células produtoras de testosterona e ocorre uma diminuição dos hormônios masculinos. O consumo excessivo de bebida alcoólica pode afetar o desejo sexual e levar o homem à impotência por danos causados nos nervos ligados à ereção.
Por conta de tudo isso, quando um casal toma a decisão de engravidar é importante ter a consciência de que acontecerá uma mudança de vida também. Reduzir o consumo de bebida alcoólica, ou evitá-lo, de preferência, pode colaborar com uma futura gestação e a realização do sonho de formar uma família.
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