Pensar em ter filhos é sempre uma questão complexa e que exige planejamento. Especialmente se formos considerar todas as mudanças que uma gravidez pode trazer na vida da mulher. São mudanças que ocorrem tanto no período da gestação quanto após o parto. Além disso, é preciso também levar em conta que a idade da mulher está diretamente ligada à fertilidade e começar a pensar em congelamento de óvulos.
Estima-se que uma criança recém-nascida do sexo feminino tenha cerca de 2 milhões de folículos ovarianos. Esses folículos são os responsáveis pela produção de gametas sexuais reprodutores. Na puberdade, no momento em que acontece a primeira menstruação, este número pode cair drasticamente para apenas 500 mil. Após os 35 anos ou na pré-menopausa, o número no estoque reduz para tão somente 2 mil folículos. Os dados são da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA).
Apesar de não existir uma lei universal que diga um momento ideal para engravidar, os especialistas apontam que o relógio biológico feminino indica que as chances de uma gestação natural sem riscos para mãe, ou até mesmo de malformações, são altas até os 35 anos. No entanto, nem toda mulher quer ou pensa em ter filhos logo quando inicia a fase adulta. Ou mesmo no intervalo até a idade indicada pelos especialistas.
Isso porque entre 18 e 35 anos, muitas mulheres estão buscando estabelecer suas vidas, ser independentes, conquistar especialização superior, sucesso profissional etc. Nesse sentido, a gravidez tardia tem sido uma opção bastante recorrente para muitas mulheres que optam ultrapassar esse limite.
Maternidade tardia e as técnicas da reprodução assistida
Neste cenário, escolher postergar a gravidez parece percorrer um caminho contrário aos estudos que sinalizam os 35 anos como padrão. Porém, as técnicas da reprodução assistida têm possibilitado condições favoráveis para aquelas mulheres que, ainda assim, decidem adiar a gestação.
O congelamento de óvulos é uma delas. A técnica permite à mulher conservar óvulos saudáveis para utilização em uma futura gestação, por meio da fertilização in vitro. O congelamento de óvulos, porém, ajuda a outras situações. Além de recomendação para mulheres que optaram uma gravidez tardia, é indicado também àquelas que serão submetidas a tratamentos oncológicos. Ou ainda, para mulheres que tenham histórico familiar ou fatores de risco para menopausa precoce.
O congelamento de óvulos e a preservação da fertilidade
O procedimento de congelamento de óvulos que possui maior índice de sucesso é realizado a partir do método de vitrificação. Nele, os óvulos são colocados em contato com nitrogênio líquido a cerca de -196ºC. A técnica permite a preservação de até 95% dos óvulos armazenados após seu descongelamento.
O índice de sucesso na técnica de congelamento de óvulos pode atingir cerca de 60% por tentativa. Isso considerando que a coleta foi realizada antes dos 35 anos ou até mesmo dos 37 anos, quando a reserva ovariana ainda consegue alcançar bons resultados. Se existe uma idade ideal, seria o mais cedo possível. Porém, dependendo da saúde ovariana da mulher, é viável o congelamento até os 40 anos.
A indicação dos profissionais é que o congelamento dos óvulos ocorra antes dos 35 anos. Momento em que a ovulação da mulher ainda está elevada. Após esse período, os riscos de coletar um número insuficiente de óvulos saudáveis para serem transplantados, fica ainda maior.
Apesar de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não contabilizar a taxa de realização dos óvulos congelados no Brasil, estudos na área da reprodução humana indicam um crescimento significativo nos bancos de armazenagem e coleta.
O aumento pode estar ligado principalmente às novas práticas sociais do mundo globalizado, pelas quais o sonho de ter um filho acaba ficando em segundo plano.
O processo de congelamento de óvulos
Para os especialistas, o ideal é garantir que os óvulos estejam maduros antes do seu congelamento. Logo, no primeiro momento, os folículos ovarianos são estimulados através de injeções de hormônios, garantindo o amadurecimento dos óvulos antes da sua coleta.
O acompanhamento desta etapa é feito a partir da avaliação médica (dosagens hormonais) e ultrassonográfica. Em média, 10 dias após a estimulação outra medicação é utilizada para chegar à maturação final dos óvulos. Após contadas 34-35 horas depois, a coleta já pode ser realizada.
Na próxima fase, os profissionais utilizam uma agulha especial, amparada por ultrassom transvaginal sob sedação, para coleta dos óvulos. O procedimento é indolor. Em seguida, o material é encaminhado ao laboratório para ser avaliado e separado por um embriologista, em momentos que precede a vitrificação, que é a fase final do congelamento.
A exposição dos óvulos à baixa temperatura é feita de forma rápida. Pois, desse modo, impede a formação de cristais de gelo e, por consequência, danos celulares.
Mãe após os 35 anos e o uso das técnicas de fertilização in vitro
Se em uma determinada fase da vida, a mulher que realizou o procedimento de coleta e armazenagem dos óvulos resolver utilizar o material; será preciso passar por algumas etapas até o momento da transferência embrionária.
Isso porque, o corpo feminino após os 35 anos precisa receber atenção redobrada, tendo em perspectiva que o funcionamento do organismo não é o mesmo de quando jovem.
A fase primária conta com o preparo endometrial (estimulação do tecido interno do útero), que pode acontecer através de medicações hormonais de uso oral ou adesivas. Ou pode ser de forma natural, com a produção de hormônios pelo próprio organismo. Até o endométrio atingir uma espessura adequada para a transferência dos embriões, os especialistas fazem acompanhamento por exame ultrassom. Para dar continuidade ao tratamento, os óvulos são aquecidos e, em seguida ao seu descongelamento, passam por avaliação que certifica se sobreviveram ao procedimento.
Além disso, o profissional faz a separação dos óvulos que são viáveis para serem utilizados na fertilização. Neste processo, os óvulos selecionados são fertilizados com os gametas sexuais masculinos em uma incubadora laboratorial, que simula condições semelhantes ao ciclo gestacional biológico.
Embora pareça complexo, na etapa final da fertilização in vitro, a futura mãe recebe a transferência dos embriões formados sem intervenções invasivas. O procedimento é simples e não requer aplicação de anestesia. Para introduzir os embriões, os profissionais utilizam um cateter especial, direcionado por ultrassom, que percorre o colo até o útero, onde são depositados embriões para geração da gravidez.
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