A pandemia, embora esteja em nossas vidas há quase um ano, é recente demais para ter respostas concretas para todos os questionamentos que vêm surgindo. Pesquisadores e cientistas por todo o mundo conduzem estudos para tentar mapear os efeitos e as consequências da doença provocada pelo vírus mais falado do planeta. Agora, um novo estudo que saiu na revista científica Reproduction, sugere que sim, a COVID-19 poderia afetar os espermatozoides e reduzir a fertilidade dos homens.
Isso porque segundo os especialistas, a infecção pelo novo coronavírus pode afetar o sêmen, intensificando a morte dos espermatozoides. A infecção pode ainda prejudicar a fertilidade masculina por inflamar e gerar estresse oxidativo nas células.
“Assim como no início da pandemia tínhamos dúvidas sobre prosseguir com os tratamentos de reprodução assistida por não entender a relação do vírus com a gravidez. Esse é um momento onde as pesquisas serão muito importantes para nos trazerem dados. E para que possamos nos preparar melhor para lidar com essa doença e com seus efeitos. A vacinação começou, mas o ritmo ainda é lento em todo o mundo. Então, a preocupação sobre consequências da contaminação persiste”, explica Daniele Freitas, coordenadora do laboratório de FIV da clínica IVI Salvador.
O que mostra o estudo
As descobertas que foram publicadas na primeira semana de fevereiro, são o primeiro indício que relaciona o sistema reprodutor masculino ao Sars-CoV-2. Os resultados sugerem avaliar a função reprodutiva dos homens após a infecção. Apenas com avaliação de especialista, esses homens acometidos pela doença, poderão acompanhar e detectar sequelas, com a finalidade de evitar mais problemas de fertilidade.
A pesquisa publicada pela revista científica Reproduction realizou-se na Alemanha, pelo estudante de doutorado e pesquisador Behzad Hajizadeh Maleki e sua equipe, da Universidade Justus-Liebig.
O estudo avaliou marcadores de inflamação, estresse oxidativo, morte de espermatozoides e qualidade do sêmen. Foram 60 dias de acompanhamento, com um total de 84 homens infectados pelo novo coronavírus e outros 105 voluntários saudáveis. Todos eles foram examinados a cada 10 dias.
Antes, um especialista em urologia determinou que todos os homens eram férteis. Depois, detectou-se naqueles que estavam com a Covid-19 um aumento de mais de 100% nos marcadores de inflamação e no estresse oxidativo nas células espermáticas, em comparação aos que não haviam sido contaminados.
Para os infectados, as vias que facilitam a morte das células espermáticas foram ativadas e a concentração de espermatozoides foi reduzida em 516%, a mobilidade em 209% e a forma da célula do esperma foi alterada em 400%. As diferenças também aumentaram com a gravidade da doença.
“O universo pesquisado é pequeno, mas essa é uma pesquisa que deve ser olhada cuidadosamente. Como o vírus tem sofrido mutações e traz novidades a cada dia para a medicina, o melhor mesmo é ficar alerta para as possíveis consequências de uma infecção. Se manter esperto, utilizando os meios de prevenção, higienizando as mãos e usando máscara para evitar contrair a doença”, pondera Daniele.
Os efeitos para os espermatozoides são temporários?
Especialistas não envolvidos na pesquisa, pedem cautela na interpretação dos resultados. Isso porque mesmo mostrando a relação direta entre a COVID-19 e os prejuízos – naquele momento – aos espermatozoides, não significa que posteriormente, os índices de qualidade do sêmen não voltem a se estabilizar.
Segundo organizações médicas, até mesmo em um caso como o de gripe, o corpo masculino pode sofrer com redução temporária na contagem de sêmen por algumas semanas ou até mesmo meses. Para essa outra fatia de pesquisadores, o difícil ainda é descobrir quanto das reduções que se observou neste estudo, efetivamente se relacionam com a infecção pela COVID-19.
O assunto é mesmo polêmico, por ser tão recente. Outra corrente de pesquisadores salienta que não há evidências de que o vírus possa se transmitir pelo sêmen. E que não encontraram traços virais no sêmen dos homens avaliados pela pesquisa; o que suscitaria a dúvida sobre a real relação entre redução da fertilidade e COVID-19.
Outro fator que está sendo analisado é sobre o impacto para a saúde reprodutiva desses homens, dos medicamentos usados para o combate aos sintomas da doença.
Por fim, o grupo de pesquisadores entende que é necessário mais tempo para responder precisamente a tantas perguntas sobre o assunto e definir de forma conclusiva o percentual de risco para os testículos, de uma infecção pelo novo coronavírus.
“É a mesma questão da relação entre a vacina e as grávidas. Cada caso é um caso. E só o tempo poderá responder de forma generalizada a tudo. O mais correto, como disse, é se manter em postura cuidadosa, manter os protocolos de higiene e segurança”, conclui Daniele.
A preservação da fertilidade como garantia
Uma opção antes utilizada na maior parte dos casos, para pacientes em tratamento contra o câncer, ou contra doenças do sistema reprodutivo, agora pode ser uma estratégia para garantir que, no momento adequado, a paternidade poderá acontecer.
No IVI Salvador, os especialistas realizam o congelamento do sêmen para aqueles homens que desejam preservar a sua fertilidade. Seja por motivo de vasectomia, diagnóstico de câncer ou decisão pessoal. O processo é muito comum também para aqueles homens que ainda não sabem quando – e se – querem ser pais. Mas querem poder definir no futuro, sem se preocupar com problemas como qualidade e quantidade dos espermatozoides.
Isso porque assim como as mulheres, os homens também tendem a sofrer uma queda na qualidade de seus espermatozoides após os 50 anos de idade. Eles podem sofrer tanto na redução numérica quanto na redução de mobilidade ou qualidade.
O processo para congelamento – nesse contexto de pandemia – também pode servir para aqueles homens que prefiram não arriscar sua fertilidade diante de um inimigo invisível. O processo é bastante simples, colhe-se através da masturbação e realiza-se na própria sede da clínica.
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