A família é considerada uma das instituições mais importantes da sociedade. Ela vem passando por diversas transformações ao longo do tempo. Assim, passaram a existir vários “tipos” de família. O que todas elas têm em comum, é a base do amor.
“Cada família sempre será única, diferente e valiosa. Afinal de contas, ela é constituída por seres inigualáveis. Não estamos falando apenas sobre tradições. Mas sim, sobre a estrutura familiar em si. Ou seja, sobre como ela é composta. Nem sempre uma família será o resultado do casamento entre um homem e uma mulher e os filhos concebidos dessa união. Hoje, mais do que nunca, vivemos isso dentro dos consultórios. É cada dia maior o número de pessoas que nos procuram para formar famílias que têm composições diversas”, explica a Dra. Isa Rocha, médica do IVI Salvador.
Portanto, é importante promover valores de igualdade de direitos, liberdade e tolerância. Não há família melhor ou pior do que a outra. Seja ela formada por um casal hetero, um casal homo afetivo ou monoparental. Todas essas famílias diversas são igualmente válidas e representam a pluralidade da sociedade atual.
Quando duas mães formam uma família repleta de amor
A decisão de se tornar uma família de duas mães antes de tudo é um ato de amor. Apesar disso, é possível que você ainda se questione se a decisão de constituir essa família pode ter algum impacto sobre o desenvolvimento do seu futuro filho.
Estudos realizados mostram que não existem diferenças significativas na qualidade da criação dos filhos. Crianças de famílias que tem na sua base duas mães, não diferem de outras famílias quanto ao desenvolvimento emocional e comportamental. Assim como não apresentam déficits em seu funcionamento cognitivo e sua autoestima. Tampouco nos níveis de competência acadêmica e social.
Meninas e meninos que possuem um bom conhecimento dos papéis de gênero, são confiantes a respeito de sua identidade de gênero. E são educados em um ambiente mais aberto que contribui para que eles tenham a chance de viver livremente sua sexualidade.
Estes estudos também apontam que há uma dinâmica familiar positiva em lares liderados por mulheres.
O momento de tomar decisões
Para algumas mulheres, ser mãe é algo que elas sempre tiveram vontade de experimentar. Para outras é uma etapa que surge com o tempo. É um desejo que pode ser relacionado ao presente, ou à forma como cada um se projeta para o futuro.
O caminho para a tomada de decisões pode ser mais ou menos longo e eventualmente lento. Dependendo às vezes do apoio familiar e social, e também da busca pela estabilidade financeira. É possível que em alguns casos, o casal ainda enfrente preconceitos familiares e culturais.
Vale ressaltar que casais formados por duas mulheres recorrem à reprodução assistida para engravidar não porque possuem um diagnóstico prévio de infertilidade. Muito pelo contrário. Elas enxergam nos tratamentos reprodutivos a ajuda necessária para realizar o sonho de se tornarem mães. E, consequentemente, aumentarem sua família.
A decisão de ter um bebê também envolve a escolha sobre qual das duas mães ficará grávida. Após isso, vem a escolha sobre qual técnica de reprodução assistida deve ser eleita. Durante essas decisões, elas podem optar por utilizar os óvulos da mãe que será a gestante, ou da outra mãe. E, às vezes, caso seja necessário, elas realizam uma dupla doação.
Dividindo a experiência com as pessoas mais próximas, a família e a comunidade
Cada família vai reagir de maneira diferente. Tudo depende de suas características individuais, bem como de seu contexto familiar e social.
É importante avaliar se o casal necessita de apoio para lidar com este processo, com a finalidade de facilitar a aceitação e a reorganização familiar.
Além das pessoas de confiança do casal, é importante levar em conta que o círculo social é mais abrangente. Essa nova família terá que interagir também com pessoas de fora do ciclo íntimo. Nesse caso é importante estarem preparadas para todos os tipos de perguntas e comentários.
Procurar o apoio de grupos dentro da sua comunidade é bem importante. Com o objetivo de facilitar os processos de tomada de decisões, todas estas questões também podem ser abordadas e estudadas durante uma consulta com um psicólogo.
A ausência de uma figura paterna
Quando esse modelo familiar começou a surgir nos anos 70, pensava-se que as crianças mostrariam um desenvolvimento atípico de gênero (meninos seriam menos masculinos e meninas menos femininas). Com isso, no futuro, essas crianças estariam mais propensas a serem homossexuais.
Porém, esses argumentos não possuíam validade científica comprovada. Hoje, novas pesquisas já mostram que, independente da formação familiar, as crianças crescem de forma saudável.
Muitas mudanças sociais ocorreram nas últimas décadas. Principalmente com uma maior inserção da mulher no mercado do trabalho, e o maior envolvimento dos pais na educação dos filhos. A evolução do conceito de família tem mostrado que estes papéis podem ser flexíveis.
Homens e mulheres podem desempenhar todos os papéis. Se retirarmos os rótulos (masculino e feminino) e focarmos simplesmente nas funções básicas (segurança, respeito, amor, vigilância emocional, cuidados…) não importa quem as exerce.
As meninas e meninos, no seu processo de amadurecimento, encontram referências masculinas em outras pessoas ao seu redor (avôs, tios, professores, amigos da família) e também nos modelos sociais referenciais disponíveis para eles.
Como conversar com a criança
Para as famílias com duas mães, é importante conversar com seus filhos sobre a história da formação, com o objetivo de ajudá-los a conviver normalmente dentro do seu modelo familiar e com a ausência de uma figura paterna em sua vida.
A melhor maneira de ter essa conversa com o filho é simples: abordar o assunto de forma natural, com amor, carinho e honestidade. O mais importante é que a criança saiba que desde o início, suas mães sempre o desejaram.
Trata-se de mostrar que a realidade familiar é muito diversa e que não existe um “modelo único” de unidade familiar; e que a diversidade é normal e enriquecedora.
Surgirão questões sobre a concepção e a contribuição do gameta masculino. Nesse sentido, é importante que a criança compreenda que o doador não é o pai. As fantasias não devem ser alimentadas. Ele é um doador que disponibilizou seu sêmen para ajudar mulheres a realizar o desejo de se tornar mãe.
Alguns filhos nascidos de doação mostram interesse nesses “pais”. Porém, a doação no nosso país é anônima, então não será possível fornecer informações sobre a identidade do doador.
Promovendo a diversidade
Educar sobre a diversidade, significa compreender e respeitar que não há duas pessoas iguais. Raça, crenças, valores, capacidades cognitivas, nível socioeconômico e cultural, e claro, o modelo familiar a que se pertence, são algumas das características que uma pessoa possui e que a tornam única.
É importante que haja consciência e aceitação de um mundo plural e diversificado no qual todas as pessoas devem viver juntas e estar integradas. Portanto, educar sobre esses valores de diversidade e respeito mútuo é fundamental para promover a tolerância dentro ou fora de uma sala de aula.
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