A Fertilização in Vitro (FIV) é um dos tratamentos mais eficazes para casais e pessoas que enfrentam dificuldades para engravidar. Ao longo dos anos, essa técnica tem evoluído significativamente, oferecendo taxas de sucesso cada vez maiores.
Mas um tema que desperta curiosidade e até certa expectativa entre pacientes é a possibilidade de gestação múltipla, especialmente de gêmeos.
É importante compreender como os gêmeos podem se formar na FIV. Existem dois tipos de gêmeos: os fraternos, ou dizigóticos, que são os mais comuns na Fertilização in Vitro, quando dois embriões diferentes se implantam no útero e se desenvolvem ao mesmo tempo.
Cada um tem seu próprio material genético, podendo ser do mesmo sexo ou de sexos diferentes. Já os gêmeos idênticos ou monozigóticos, são aqueles em que um único embrião, já implantado, se divide em duas partes, originando dois bebês geneticamente iguais.
O tipo mais comum, considerando a FIV, é a gestação de gêmeos fraternos, pois o tratamento pode envolver a transferência de mais de um embrião para o útero da paciente.
Quantos embriões são transferidos na Fertilização in Vitro?
Um dos pontos decisivos para a possibilidade de gestação múltipla é a quantidade de embriões transferidos durante o tratamento. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) estabelece limites para essa transferência, levando em conta a idade da paciente.
Até 35 anos de idade, o máximo de 2 embriões; entre 36 e 39 anos de idade, o máximo de 3 embriões, e a partir de 40 anos de idade, o máximo de 4 embriões.
Essas regras têm como objetivo equilibrar as chances de sucesso da gestação com a segurança da mãe e do bebê, já que a gravidez múltipla pode trazer riscos adicionais, como parto prematuro, diabetes gestacional e a hipertensão.
Chances de gêmeos durante reprodução assistida
Segundo dados publicados pela Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), a taxa de gestações múltiplas em tratamentos de reprodução assistida no Brasil varia entre 20% e 25% dos casos, especialmente quando ocorre a transferência de dois ou mais embriões.
Já em gestantes que realizam a Fertilização in Vitro. (FIV) com transferência de apenas um embrião, a chance de gravidez de gêmeos cai para cerca de 1% a 2%, geralmente relacionada à divisão espontânea do embrião em gêmeos idênticos.
No mundo, estudos semelhantes apontam números próximos. Em países como os Estados Unidos, por exemplo, cerca de 18% a 22% das gestações por Fertilização in Vitro resultam em múltiplos, embora essa taxa esteja diminuindo com o avanço das técnicas de cultivo embrionário e a preferência pelo single embryo transfer (SET), ou seja, a transferência de um único embrião.
“Muitas pessoas acreditam que a FIV é “sinônimo” de gravidez de gêmeos, mas essa ideia não é correta. O principal objetivo do tratamento é alcançar uma gravidez saudável e segura, reduzindo riscos para a mãe e para o bebê. Embora a transferência de mais de um embrião aumente a chance de gestação, também eleva a possibilidade de complicações. Por isso, atualmente, muitas clínicas têm optado pela transferência de apenas um embrião, especialmente quando a paciente tem bom prognóstico, embriões de alta qualidade e idade favorável”, conta a especialista Dra. Isa Rocha, médica do IVI Salvador.
Os riscos da gestação múltipla
É importante lembrar que a gestação de gêmeos, embora seja um sonho para algumas famílias, também apresenta maiores riscos. Um deles é o de parto prematuro, ou seja, antes de 37 semanas. Entram no rol baixo peso ao nascer, pré-eclâmpsia e hipertensão gestacional, diabetes gestacional e maior necessidade de parto cesariana.
Por isso, a decisão sobre quantos embriões transferir deve ser tomada em conjunto com o médico, considerando fatores clínicos e o desejo da paciente.
“Pacientes mais jovens, com embriões de boa qualidade, têm excelentes chances de engravidar com apenas um embrião transferido. Já em situações de maior complexidade, pode-se avaliar a transferência de mais de um, mas sempre dentro dos limites definidos pelo Conselho Federal de Medicina”, defende a especialista.
Avanços que reduzem o risco de gestações múltiplas
Nos últimos anos, um dos maiores avanços da medicina reprodutiva foi o desenvolvimento de técnicas de cultivo embrionário mais seguras e eficazes. O cultivo até o estágio de blastocisto, quando o embrião tem 5 a 6 dias de desenvolvimento, permite uma seleção mais precisa, aumentando as chances de implantação com a transferência de apenas um embrião.
Isso significa que, mesmo optando pelo Single Embryo Transfer, a paciente mantém altas probabilidades de sucesso, ao mesmo tempo em que minimiza os riscos de uma gestação múltipla.
É interessante observar que, em países da Europa, como Suécia e Finlândia, a adoção do Single Embryo Transfer tornou-se praticamente uma norma. Nessas regiões, menos de 10% das gestações por FIV resultam em múltiplos, enquanto em países que ainda mantêm a prática de transferir mais embriões, como ocorre em parte da América Latina, esse percentual pode chegar a 20%.
O Brasil vem gradualmente se alinhando à tendência internacional, com as clínicas incentivando cada vez mais a transferência única quando o caso clínico permite.
Expectativa dos pacientes e aconselhamento médico
Outro ponto relevante é o aspecto emocional e cultural. Muitos casais chegam à clínica acreditando que ter gêmeos seria uma forma de “acelerar” o processo de aumentar a família.
No entanto, cabe ao especialista explicar de maneira clara os riscos associados a esse tipo de gestação e mostrar que a transferência de um embrião por vez não diminui as chances cumulativas de sucesso.
Pelo contrário: com as técnicas atuais, os resultados são excelentes e oferecem maior segurança, garantindo que cada gestação seja conduzida de forma saudável.
Dados e panorama no Brasil
De acordo com o Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), da Anvisa, em 2022 foram realizados mais de 50 mil ciclos de Fertilização in Vitro no Brasil.
Entre eles, aproximadamente um quarto das gestações confirmadas foram múltiplas. Esses números mostram a importância de discutir a questão com clareza: embora a chance de gêmeos exista, ela não é a regra e tende a diminuir com o avanço da prática do Single Embryo Transfer.
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