As malformações uterinas, ou anomalias Müllerianas congênitas, correspondem a um espectro de anormalidades. Elas podem ser causadas por fusão embriológica defeituosa ou por falhas na recanalização dos ductos de Müller na formação de cavidade uterina normal. Ou ainda, por problemas vivenciados pela mãe durante a gravidez – como doenças infecciosas, uso de determinados medicamentos e intoxicações.
O desenvolvimento embriológico dos ductos Müllerianos é um processo que se completa por volta da 12ª semana de gestação. A partir daí é dada a origem de útero, trompas uterinas e terço superior de vagina.
O útero faz parte do sistema reprodutor feminino e tem como principal função, a sustentação do feto durante a gravidez. Após o óvulo ser fecundado na tuba uterina, ele segue em direção ao útero para se alojar e se desenvolver. Ou seja, ele precisar estar em bom funcionamento para que a gravidez vá adiante.
Relação entre malformações uterinas e a gravidez
O formato normal do útero é semelhante ao de uma pêra invertida. Mas, em algumas mulheres, ele pode apresentar algum tipo de malformação. Por exemplo, o útero pode ter apenas metade do tamanho normal, ou uma fenda que separa o órgão em duas partes.
As malformações uterinas estão entre as principais causas de abortamentos de repetição e de falhas na implantação do embrião. Em muitos casos, elas são assintomáticas. E por isso é tão comum que o diagnóstico seja confirmado somente após o casal apresentar dificuldade para engravidar, ou um aborto.
“As malformações podem afetar de 3% a 5% das mulheres. Por isso, é importante que durante a gestação, a paciente tenha um acompanhamento médico mais rigoroso. E é bom salientar que nem todas as malformações uterinas atrapalham na gestação”, explica a Dra. Tirza Ramos, médica do IVI Salvador.
Diagnóstico
Geralmente, as anomalias uterinas são assintomáticas, o que dificulta o diagnóstico. Por isso, só são descobertas após complicações obstétricas como abortos de repetição, partos prematuros, restrição de crescimento fetal, pré eclâmpsia, entre outras.
O exame ginecológico é o primeiro passo, já que algumas malformações podem ser verificadas no exame de toque. Mas, o diagnóstico das malformações uterinas também é feito por meio de exames de imagem.
Exames como a ultrassonografia transvaginal ou pélvica e a histerossalpingografia podem ser requisitados pelo médico. A ultrassonografia tridimensional e a ressonância magnética também podem entrar na lista dos exames necessários para chegar ao diagnóstico.
As principais malformações uterinas
Há diversos tipos de malformações uterinas. Algumas são mais raras e outras mais comuns. A malformação mais comum é o útero septado. Ela é a que produz maior incidência de complicações obstétricas. É definida quando a cavidade uterina apresenta uma parede, chamada de septo, que pode variar de tamanho e chegar até o colo do útero.
O útero septado é a malformação que divide o útero em dois devido à presença desse tecido fibromuscular.
Normalmente, as mulheres com útero septado sofrem abortos de repetição entre a 8ª e a 16ª semana de gestação. A infertilidade também é frequente nestes casos, já que há dificuldades na implantação do embrião.
Para tratar, os médicos indicam um procedimento cirúrgico chamado de metroplastia, realizado por videohisteroscopia.
O útero didelfo, uma forma rara de anomalia, pode também ser chamado de útero duplo. Isso acontece quando o orgão é formado por dois úteros.
Mulheres com útero didelfo podem engravidar, porém têm mais chances de terem aborto espontâneo e parto prematuro. Durante a gestação, há um risco maior, pois o bebê tem menos espaço para se desenvolver.
Já no caso de útero unicorno, ele possui metade do tamanho de um útero normal. Também é uma forma rara de malformação uterina. Com relação à anatomia do sistema reprodutor, em geral, a mulher portadora dessa condição possui dois ovários, mas apenas uma tuba uterina.
Infertilidade, abortos de repetição e partos prematuros são algumas das dificuldades encontradas por mulheres com este tipo de anomalia. Não há intervenções cirúrgicas efetivas que permitam melhorar os resultados reprodutivos.
O útero bicorno também é um tipo comum de anomalia uterina. É caracterizado pela presença de uma fenda na região do corpo do útero, dividido em dois, sendo parecido com o formato de um coração.
Ao longo da gestação, o útero tem mais dificuldade para aumentar de tamanho, colocando sob risco o desenvolvimento do bebê. E, em alguns casos, a paciente sente alguns sintomas. Entre eles: dor durante a relação sexual, dismenorreia (dor no período menstrual), sangramento vaginal irregular e abortamentos de repetição.
Em uma comparação com mulheres com útero normal, não há evidências de diminuição significativa da fertilidade. Mas, caso a infertilidade aconteça, o procedimento cirúrgico (metroplastia de Strassman) é recomendado apenas para alguns casos específicos, como histórico de abortamentos de repetição ou partos pré-termo, com exclusão de outras causas.
Outras malformações uterinas
Nos casos de útero arqueado, há uma mínima alteração da cavidade uterina, o que confere ao fundo uterino uma curvatura levemente côncava ou achatada. As manifestações clínicas são mínimas. Por ser grande a probabilidade de gestações sem intercorrências, geralmente, não é necessária uma intervenção cirúrgica.
Para finalizar, outra possível malformação é a agnésia, caracterizada pela ausência do útero e 2/3 superiores da vagina. Os ovários estão presentes e funcionam normalmente, porém o exame ginecológico evidencia o encurtamento ou mesmo a ausência do canal vaginal.
Nestes casos, as mulheres que buscam constituir família podem optar pela doação temporária de útero. O útero de substituição, conhecido popularmente como barriga solidária, pode ajudar essa mulher a realizar o sonho de ser mãe.
Tratamentos para malformações uterinas
Nem todo tipo de malformação uterina causa infertilidade, mas pode levar a complicações obstétricas em muitos casos. O útero septado e o unicorno são os mais associados a abortamento de repetição.
O tratamento para malformações uterinas é cirúrgico, sendo indicado para pacientes com histórico de abortamento e infertilidade. Caso a paciente não apresente sintomas ou problemas de fertilidade, não há necessidade de tratamento. A cirurgia visa corrigir a forma do útero por meio da histeroscopia.
Quando a cirurgia não conseguir resolver o problema a fertilização in vitro (FIV) é a alternativa mais indicada para a paciente que deseja ter filhos.
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