Hipertensão arterial, diabetes, doenças do coração, apneia do sono, problemas respiratórios, alterações articulares, disfunção sexual, depressão, câncer e risco aumentado de morte são situações tradicionalmente mais frequentes em pessoas com obesidade. E será que existe uma relação entre a fertilidade feminina e a obesidade?
A obesidade e o sedentarismo representam problemas importantes para a saúde pública. Devido ao aumento acelerado, eles estão associados a efeitos adversos à saúde cardiovascular e metabólica. E isso cada vez mais em idades precoces.
A obesidade tornou-se um problema alarmante. Segundo o Ministério da Saúde, ela atinge um a cada cinco brasileiros.
Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, dados mostram que 48% das mulheres tem obesidade, e metade delas está na fase reprodutiva. E esses números podem ser consequência de falta de informação, dietas inadequadas, escassez de atividade física, entre outros. Pessoas com predisposição genética, podem ter uma facilidade maior para o ganho de peso.
Estudos comprovam ainda que existe sim uma relação entre obesidade e infertilidade. Diversas pesquisas demonstram que estar acima do peso, afeta a capacidade reprodutiva de mulheres e homens. De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), no Brasil, existem aproximadamente 18 milhões de pessoas consideradas obesas e 70 milhões acima do peso.
“Engravidar nesse cenário de sobrepeso ou obesidade pode trazer prejuízos para a mãe, a gestação e para o bebê. Outras vezes, a obesidade pode tornar longa a jornada para engravidar, e um tratamento para combater a infertilidade pode ser necessário após estratégias adequadas de redução do peso”, explica a médica Isa Rocha, do IVI Salvador.
Vale chamar atenção que, assim como o sobrepeso e a obesidade atrapalham a fertilidade da mulher, estar abaixo do peso também não é considerado saudável. Isso pode acarretar problemas e dificuldades para engravidar naturalmente também.
De que forma a obesidade atrapalha a fertilidade?
Mulheres obesas têm três vezes mais chances de sofrer de infertilidade anovulatória do que pacientes com IMC normal. Além disso, o problema se torna uma comorbidade associada a menores taxas de sucesso em ciclos de reprodução assistida.
Mas é importante que a mulher entenda porque o problema ocorre. A gordura tem enzimas que participam da síntese hormonal do organismo. Normalmente, quando nosso peso é normal, há equilíbrio entre a secreção de estrogênios, androgênios e outros hormônios relacionados com o metabolismo e a fertilidade.
Ou seja, o primeiro fator que faz com que a obesidade interfira na fertilidade é a questão hormonal.
O estrogênio – hormônio sexual produzido pelos ovários – pode ter a produção e metabolização alteradas devido ao excesso de gordura. É recorrente que o sobrepeso acabe provocando ciclos menstruais irregulares.
Na maioria das vezes, essas mulheres ficam períodos longos sem menstruar (amenorreia). Ou com irregularidade menstrual associada a outros sinais, como acne, pelos em excesso no corpo, queda de cabelo, alterações do metabolismo, além de tendência ao diabetes e ovários policísticos, que aparecem na ultrassonografia.
Outro problema hormonal relacionado com a obesidade é a Síndrome de Ovários Policísticos (SOP). Ela provoca 0 excesso de hormônios masculinos, como a testosterona, o que causa a ausência ou alteração da ovulação. O controle da SOP pode ser realizado com pílulas anticoncepcionais, o que inviabiliza a gestação no momento em que a medicação está sendo usada.
A obesidade feminina também pode ser responsável por condições como ausência de ovulação e má qualidade dos óvulos, tornando a concepção natural mais difícil. Isso aumenta as chances de abortamento e provoca alterações nas trompas e endométrio, por exemplo.
Além das alterações hormonais, estudos envolvendo tratamentos de reprodução humana demonstram que a obesidade está associada à presença de óvulos de menor tamanho, alteração da receptividade do endométrio para implantação e taxa de fertilização reduzida quando comparada com a de mulheres com peso normal.
O embrião de mulheres com obesidade pode ter tamanho reduzido, menor número de células, alteração do metabolismo e desenvolvimento mais lento até o estágio de blastocisto.
Como melhorar a fertilidade
Modificar o estilo de vida, adotando uma dieta rica em nutrientes e hábitos saudáveis, não apenas melhoram o bem-estar como também aumentam a fertilidade.
Apenas um especialista em reprodução humana poderá identificar com maior precisão qual a condição para a infertilidade da mulher. Dessa maneira poderá dizer se o emagrecimento será suficiente para conseguir gerar um filho, seja por meio de tratamentos de reprodução assistida ou pela concepção natural.
Mudar o estilo de vida para a redução do peso corporal é a medida mais eficaz para restaurar a fertilidade, como vimos. Além de ajudar a diminuir as possíveis complicações durante a gravidez.
Além de restrição calórica e atividade física, a composição da dieta pode ser um grande aliado na redução do IMC. Por isso, é importante consultar um especialista em reprodução humana, que solicitará auxílio a uma equipe multiprofissional composta por psicólogo, profissional de educação física, nutricionista, entre outros.
Apesar da importância da perda de peso para a saúde geral do nosso corpo, é bom lembrar que a redução do IMC pode não estar associada à melhora nos resultados da fertilização in vitro (FIV) e de outros tratamentos para engravidar.
A FIV pode ser realizada com segurança em mulheres obesas que realizaram adequação dos hábitos de vida, mas não tiveram redução do peso corporal. Isso porque, em alguns casos, pode ocorrer mudança da composição corporal com redução de complicações na gravidez. Além da melhora metabólica materna e para o bebê.
Nesse sentido, isso traz uma esperança para muitas mulheres obesas, mas com hábitos saudáveis. E que brigam com a balança todos os dias e postergam o sonho de serem mães.
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