O número de gestações múltiplas, ou seja, de gêmeos, aumentou muito nos últimos anos. Isso por conta do aumento na procura e no uso das técnicas da medicina reprodutiva. Mas, ao redor do mundo, existe uma tendência de diminuir o número de embriões transferidos para o útero da mulher.
Uma gravidez múltipla traz alguns riscos associados. Partos prematuros e bebês com baixo peso ao nascer são quase sempre recorrentes. Justamente por conta desses fatores, a tendência de transferência única tem crescido. A transferência de apenas um embrião, ou Single Embryo Transfer, foi apelidada pela sigla SET. O procedimento tem feito reduzir as gestações de gêmeos, que têm uma taxa atual média de 20% em tratamentos reprodutivos. Com o método SET, o melhor blastocisto (embrião) formado é transferido. Isso aumenta as chances de implantação.
SET: política atual da IVI e aumento da segurança nos procedimentos de reprodução humana
“A política atual do grupo IVI em todo o mundo é optar, sempre que possível, por transferências de um único embrião. Os dados do grupo já refletem essa realidade. Na Espanha, por exemplo, o SET passou de 22% em 2009, para 88% em 2018”, explica a embriologista Daniele Freitas, Coordenadora do Laboratório de Fertilização In Vitro da IVI Salvador.
O motivo pelo qual a estratégia foi adotada em quase 100% dos tratamentos nas clínicas IVI, foi pelo fato do melhor conhecimento dos mecanismos que regulam a receptividade endometrial. Técnicas que permitem observar a evolução embrionária trouxeram progressos na seleção e escolha do melhor embrião. E assim contribuíram para fortalecer a tendência de transferência única em processos de inseminação artificial.
O diagnóstico genético pré-implantacional também ajuda na escolha de um único embrião, pois dessa forma, podem-se descartar aqueles com anormalidades cromossômicas. “Tudo para que se entenda que a gestação múltipla não é uma meta a ser alcançada, mas uma complicação a ser evitada”, complementa a Coordenadora do Lab FIV Daniele Freitas.
Gravidez de gêmeos: números são discrepantes na comparação entre gestações espontâneas e as planejadas através da medicina reprodutiva
Atualmente, a cada 80 gestações espontâneas, uma é de gêmeos. No caso de mulheres e/ou casais que optam por tratamentos da medicina reprodutiva, os números são de uma gestação gemelar a cada 4. O que deixa claro a discrepância de resultados entre os casos.
A embriologista Daniele Freitas explica que os estudos estão no caminho certo. Segundo dados da Sociedade Espanhola de Fertilidade (SEF), a transferência de dois embriões diminuiu de 72% (2012) para 56% (2016). Enquanto a transferência de um único embrião aumentou de 20% para 42% no mesmo período.
Vale ressaltar que a eficácia reprodutiva em seres humanos é mais baixa. E, aos resultados podem diminuir com o aumento da idade materna no momento da primeira gravidez. Adiar a maternidade implica também em uma maior necessidade de tratamentos de reprodução assistida para conseguir engravidar.
Casais com dificuldades para engravidar geralmente pedem ao seu médico especialista para realizar a transferência de mais de um embrião. Assim, eles acreditam que isso pode aumentar as chances de conseguir engravidar mais rápido.
“Os resultados publicados em diferentes estudos indicam que não há diferenças na taxa de gestação acumulada comum de um único embrião versus a taxa de gestação clínica quando dois são transferidos”, diz ainda Daniele Freitas.
As complicações das gestações de gêmeos reforçam a tese da SET
Existem algumas complicações relacionadas à gravidez gemelar que podem afetar a mãe. As principais são maior proporção de cesarianas, hipertensão, ruptura prematura de membranas, ameaça de parto prematuro ou maior incidência de hemorragias pós-parto.
Para os bebês, a gestação múltipla pode ser acompanhada de prematuridade, algo muito comum nesse tipo de gravidez. Além de as crianças chegarem ao mundo mais cedo, em alguns casos podem ser constatados defeitos congênitos. Retardo do crescimento intra-uterino, baixo peso ao nascer ou até mortalidade perinatal também são eventualmente verificados.
O principal objetivo dos tratamentos na reprodução assistida é conseguir gerar recém-nascidos vivos e saudáveis. E também que esses procedimentos não representem um risco para a mãe. Com o passar dos anos, a tecnologia e o conhecimento científico permitiram que a reprodução assistida fosse aperfeiçoada, oferecendo taxas expressivas de bebês saudáveis.
Reduzir as gestações múltiplas e tornar as políticas mais eficazes gera economia e maior segurança
O custo de várias gestações dobra se comparado ao custo de gestações únicas. E não apenas isso, mas os custos associados ao parto são 1,7 vezes mais caros, do que os de uma única gravidez.
Desse modo, reduzir a gravidez múltipla tem assegurado taxas cada vez menores de internações em UTIs pediátricas e tratamentos para sequelas em recém-nascidos. Pelo estudo conduzido pela IVI na Espanha, estima-se que as economias de curto prazo com o uso prioritário do SET são fixadas em 7 milhões de euros e, a longo prazo, de 50 a 70 milhões de euros.
Os inúmeros avanços científicos no campo da medicina reprodutiva delineiam grandes oportunidades para o SET. Com técnicas e tecnologias de ponta, os resultados alcançados levam a um aprimoramento constante com as maiores garantias para as mães e seus bebês.
Vale lembrar que no Brasil a gravidez não planejada ainda é um problema de saúde pública. E, mesmo com o avanço na medicina reprodutiva e dos métodos anticoncepcionais, nas camadas sociais menos favorecidas, as mulheres em situação de vulnerabilidade estão cada vez mais expostas. E o custo desta situação tem causado sérios prejuízos ao país. Estima-se que R$ 4,1 bilhões ao ano, segundo pesquisa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas – SP).
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