Uma das técnicas de pesquisa em que mais se investe recursos atualmente no segmento de Reprodução Humana, é o aprimoramento da seleção de embriões. Portanto, recentemente, a aplicação da Inteligência Artificial (IA) para alcançar automatização na escolha de embriões ou realização de análises genéticas tem sido um passo à frente na melhoria da seleção. E, consequentemente, na melhoria dos resultados.
O 35º Congresso da ESHRE (Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia), um dos eventos mais importantes do setor, foi realizado este ano de 23 a 26 de junho, em Viena – Áustria. O IVI (Instituto Valenciano de Infertilidade) apresentou dois estudos relacionados com a análise do meio de cultura de embriões, com base na análise do ambiente para conhecer da melhor forma possível a qualidade dos embriões. E, portanto, aumentar as chances de sucesso que o paciente pode ter durante o tratamento.
No primeiro estudo apresentado, “Perfil protéico da transferência de embriões simples euplóides revela padrões diferenciais entre eles” desenvolvidos no IVI Valencia, na Espanha, entre setembro de 2017 e março 2018, em uma amostra de 81 ciclos preparado para transferência de um embrião único (do inglês single blastocyst transfer – SET), as proteínas secretadas pelo embrião no meio de cultura foram estudadas e analisadas.
O que dizem os especialistas
“A importância deste estudo é que eles são embriões que já foram geneticamente testados com resultados euplóides. Tem mais valor porque, apesar de serem embriões geneticamente selecionados, nem todos conseguem implantar. Então, a ideia é melhorar o processo de seleção através da análise de proteínas. Neste estudo, utilizamos a ajuda, em parte, da inteligência artificial associada as imagens obtidas através do Embryoscope e Geri (dois modelos de incubadoras). Portanto, desenvolvendo um método que combina as imagens com o método de seleção de proteínas “, diz Dr. Marcos Meseguer, investigador principal do estudo e diretor de pesquisa do IVI Valencia – Espanha.
“Nós confirmamos uma secreção significativamente alta de IL-6 e IL-8 em embriões em fase de crescimento, destacando o potencial dessas moléculas durante o desenvolvimento embrionário. A maioria das concentrações de proteína mostrou um padrão de valores mais altos em blastocistos eclodidos “, acrescenta Dr. Meseguer.
O estudo da cultura em cultivo múltiplo de embriões
O segundo estudo, é o “Perfil oxidativo de alta cultura como biomarcador de embriões de boa qualidade: uma ferramenta não invasiva para selecionar o embrião a ser transferido“. Este, baseia-se no estudo da cultura em cultivo múltiplo de embriões. Entre 10 e 12 embriões são encontrados na mesma gota, com o objetivo de analisar se o perfil oxidativo pode ser um bom biomarcador para determinar a qualidade dos embriões.
Segundo o Dr. Meseguer, “analisamos o meio de cultura quando todos os embriões foram cultivados juntos, detectando que há um perfil oxidativo diferente quando os embriões são de boa qualidade e quando há parâmetros que tornam os embriões inviáveis. Nós desenvolvemos um método para avaliar o meio onde os embriões são cultivados. Ao não realizar um cultivo individual, analisamos a oxidação que é gerada como um valor mensurável no meio em que os embriões são cultivados. Quanto mais ativos os embriões são e quanto melhor a qualidade, mais oxidação eles geram dentro do meio de cultura. Isso que indica que eles estarão mais aptos a realizar a transferência. Garantindo uma melhor taxa de sucesso no ciclo para a paciente. Ao contrário, nos critérios de classificação, o nível de estresse oxidativo diminuiu com o comprometimento na qualidade do embrião”.
O trabalho apresentado, também desenvolvido no IVI Valencia – Espanha, analisou entre maio de 2017 e dezembro de 2018 uma amostra de 683 embriões de um total de 174 ciclos realizados pela In Vitro Fertilization (IVF).
No Congresso ESHRE 2019 foram 49 comunicações: 14 orais, 31 cartazes e 4 sessões de convidados
ESHRE é o maior congresso europeu da reprodução assistida, um lugar de encontro de grandes profissionais e médicos especialistas em reprodução humana de todo o mundo, inclusive do Brasil. Uma cidade européia é escolhida a cada ano para sediar o congresso. Em 2018, o evento aconteceu em Barcelona, este ano Viena foi a eleita. No ano de 2020, Copenhagen, na Dinamarca, já foi escolhida. A cada ano, são alcançadas conclusões importantes que irão moldar o futuro na esfera reprodutiva, novos resultados que serão colocados em prática nas clínicas de reprodução humana assistida pelo mundo, trazendo cada vez mais sucesso e confiança aos pacientes que necessitam de tratamento reprodutivo.
As novidades e avanços apresentados em cada sessão, além das trocas de informações que ocorrem informalmente pelos corredores do IVI, vem sendo representados pelos seus médicos e embriologistas todos os anos. Nesta edição, o IVI teve 49 comunicações aceitas, 14 delas foram orais e 31 posteriores, às quais são adicionados 4 artigos, no programa geral.
“Ser parte do grupo IVIRMA, já é um grande diferencial por estarmos constantemente compartilhando as informações e descobertas de todo o grupo, o que nos permite maximizar resultados e sermos referência mundial em reprodução humana assistida. Mas, a participação ativa em eventos, como o Congresso ESHRE, é muito valioso, pois, esse intercâmbio de conhecimento é muito importante para agregar valores e potencializar a qualidade dos serviços prestados aos nossos pacientes” afirma Daniele Freitas Bulcão, coordenadora do laboratório de fertilização in vitro do IVI Salvador.
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