O blastocisto é um estágio do embrião, que pode ser atingido do quinto até o sétimo dia de desenvolvimento do embrião. Tanto de forma natural (em casos de gestações espontâneas) quanto dentro de laboratório, em casos de tratamentos de reprodução assistida.
Ele é composto por um conjunto de estruturas embrionárias que inclui os blastócitos (células primordiais do embrião), a blastocele (cavidade que divide essas células em massa central e trofoectoderme) e a zona pelúcida do óvulo, principal responsável por manter estas células unidas.
Em uma gestação por vias naturais, a fecundação e a etapa de mórula acontecem no interior das trompas, que promovem a locomoção do embrião para a cavidade uterina. A etapa de formação do blastocisto acontece de forma simultânea a esse transporte, culminando com o rompimento da zona pelúcida e a implantação do embrião no endométrio.
“A gravidez é um sonho para muitas mulheres e muitos casais. Visto de fora, é algo simples, mas o processo é cheio de detalhes, fases, divisões celulares e muita complexidade. Faz parte de um universo incrível da ciência da vida, que se atualiza a cada dia”, conta a biomédica Daniele Freitas, coordenadora do laboratório de FIV do IVI Salvador.
Processo de fecundação e a formação de blastocisto
Para que o início da gravidez aconteça, o espermatozoide encontra o óvulo, e assim ocorre a fecundação. Em seguida, o óvulo fertilizado, que agora recebe o nome de zigoto, continua seu desenvolvimento e se torna um embrião. Ao longo de seu desenvolvimento, o embrião passa por diferentes estágios até se tornar o tão sonhado bebê.
O estágio de blastocisto acontece por volta do quinto dia de desenvolvimento embrionário, tanto na gravidez natural quanto nos tratamentos de reprodução humana. Além de ser um dos momentos mais fascinantes da reprodução humana, os estágios de desenvolvimento embrionário são muito discutidos e constantemente estudados.
O desenvolvimento embrionário em laboratório – diferente do natural – é contado e nomeado em dias. Na nomenclatura, geralmente se utiliza a letra D (abreviação para dia) + o número de dias de desenvolvimento (exemplo: D3 é um embrião no terceiro dia do desenvolvimento). Tudo se inicia no D0 e pode ir até o D7 (em alguns casos).
Ainda não existe tecnologia laboratorial que permita o desenvolvimento embrionário após o estágio de blastocisto, fora do útero. Então, embriões gerados por meio da fertilização in vitro (FIV), quando atingem este estágio, devem ser transferidos para o útero da futura mamãe ou, criopreservados.
A importância do blastocisto para a FIV
É importante lembrar que todas as fases do desenvolvimento embrionário decorrentes de uma gestação por vias naturais são semelhantes à fecundação da FIV. Com a única diferença de que nessa técnica os processos acontecem em ambiente laboratorial, de forma altamente controlada.
A fase de blastocisto é uma das etapas mais importantes do desenvolvimento embrionário, na Fertilização in Vitro (FIV), uma das mais usuais técnicas de reprodução assistida, reconhecida amplamente pela sua abrangência e pelas altas taxas de sucesso.
O principal evento dessa fase é a formação da blastocele, uma cavidade preenchida por líquido que divide as células primordiais do embrião que formam a chamada massa central embrionária, daquelas envolvidas na formação dos anexos embrionários, responsáveis pela manutenção de toda a gestação – a trofoectoderme.
Como acontece…
A gestação se divide em uma fase embrionária, seguida de uma fase fetal: na primeira, formam-se os tecidos especializados, compostos por diferentes tipos celulares, que originam todos os órgãos e sistemas do corpo humano, enquanto na fase fetal esses sistemas se desenvolvem e crescem até o momento do parto.
A formação do blastocisto marca também um momento importante da FIV, já que nessa etapa é possível realizar a aplicação do teste genético pré-implantacional. O PGT é uma técnica que auxilia na prevenção da transmissão de doenças hereditárias, além de marcar o momento ideal da transferência embrionária.
A importância dos blastocistos é oferecer uma possibilidade a mais para os casais inférteis. A transferência embrionária pode acontecer em alguns momentos do cultivo, e o blastocisto é um deles, e permite uma seleção morfológica mais assertiva quanto às chances de sucesso.
O Teste Genético Pré-Implantacional
Através dos tratamentos de FIV há a possibilidade da aplicação dos testes para prevenção da transmissão de doenças hereditárias, e alterações cromossômicas.
Atualmente, o melhor momento para se realizar o PGT é na fase de blastocisto. Isso acontece porque, com a separação das células que formam o embrião daquelas que formam os anexos embrionários, é possível realizar as biópsias que são necessárias para a aplicação do teste genético pré-implantacional.
Especialmente para mulheres que apresentam infertilidade por falha de implantação, esse quadro pode ser decorrente da dificuldade para realizar o rompimento da zona pelúcida e consequentemente a nidação embrionária.
“Realizar o PGT ajuda a prevenir alguns tipos de doenças e alterações cromossômicas. Essas já podem ser detectados desde muito cedo, aumentando a chance de o embrião implantar e resultar em gestação. É um grande avanço, especialmente para aqueles que são tentantes há algum tempo e realizam a FIV para concretizar o sonho de ampliar a família”, complementa Daniele.
Reprodução assistida e transferências na fase de blastocisto
Existe um fenômeno chamado de “funil da fertilidade, que consiste em manter os embriões em cultivo, em laboratório, até a fase de blastocisto. Nessa etapa é onde ocorreria um grande estreitamento desse funil. A vantagem na adoção desse método seria a de permitir a maior seletividade dos embriões a transferir.
Por outro lado, existe uma corrente de pensamento que diz que manter embriões em cultivo até o estágio de blastocisto pode também aumentar o risco de cancelamento da transferência, caso nenhum embrião evolua. Mas, com um controle de qualidade adequado dos equipamentos e da equipe técnica as condições de cultivo garantem o desenvolvimento embrionário e a não evolução estará associado a fatores intrínsecos ao embrião. Observar esse bloqueio no cultivo, inclusive, pode ajudar em decisões do tratamento. “Assim como dizemos quando recebemos uma paciente pela primeira vez em consultório: cada caso é um caso. Tudo vai depender de cada paciente individualmente. Do seu histórico, da sua idade, se os óvulos foram criopreservados antes ou se são da mesma idade da paciente. Na medicina o que funciona para uma paciente não necessariamente é o melhor caminho para a outra”, completa a biomédica. E finaliza: “fundamental é saber que a medicina reprodutiva avança a cada dia, justamente para oferecer uma gama de possibilidades, que se enquadre ao perfil de cada paciente”.
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