A laqueadura, também conhecida como ligadura de trompas, é um procedimento médico de esterilização para mulheres que optam por não engravidar. Consiste em amarrar, cortar ou colocar um anel que funciona como forma de bloqueio dos tubos uterinos.
Quando uma mulher opta por realizar esse procedimento, os óvulos são impedidos de descer em direção ao útero e se encontrar com os espermatozoides, impossibilitando, desse modo, o processo de fertilização.
Apesar disso, é crucial ressaltar que a cirurgia não interfere no ciclo hormonal feminino. Portanto, a mulher continua a menstruar normalmente.
Muitas mulheres que aderem ao procedimento têm uma dúvida comum: é possível engravidar após ter realizado a laqueadura? Para as mulheres que se arrependem, existe a opção da reversão, porem com baixa resposta positiva.
“O ideal é que a mulher tenha um planejamento antes de realizar a laqueadura. Existe um método cirúrgico de reversão, porém com baixa possibilidade de um resultado satisfatório e, consequentemente, baixa possibilidade de engravidar. Então, é de fundamental importância conversar bastante os médicos que te acompanham, e optar pela laqueadura já tendo um planejamento familiar”, explica a médica Isa Rocha, do IVI Salvador.
A especialista alerta que apesar de ser reversível, a eficácia dessa reversão vai depender da preservação das extremidades das tubas uterinas e da ausência de dilatação.
Como é feito o procedimento de reversão da laqueadura
Existem algumas técnicas de reversão da laqueadura. Uma delas envolve o processo de reanastomose, que visa restaurar a conexão nas tubas uterinas para permitir que os espermatozoides possam novamente alcançar o óvulo.
Esse procedimento cirúrgico demanda alta habilidade do cirurgião, uma vez que as tubas uterinas saudáveis têm diâmetros reduzidos, de 3 a 5 mm.
A cirurgia pode ser feita a partir de corte cirúrgico no abdome, por laparoscopia ou via vaginal, e a cirurgia dura, entre quarenta minutos e duas horas. É necessário o uso de anestesias, geralmente do tipo raquidiana, e internação de pelo menos meio-dia.
Após a cirurgia, são necessários 10 dias de repouso absoluto. É importante que a mulher não tenha relações sexuais por cerca de quatro semanas.
Embora muitas pessoas acreditem que qualquer mulher possa passar pelo procedimento de reversão da laqueadura, é importante destacar que essa intervenção não é apropriada para todas.
Para validar se está apta a realizar o procedimento, é necessário que a paciente seja submetida a uma avaliação de fatores que visa analisar todos os seus parâmetros de fertilidade.
Altos índices de laqueaduras
O Brasil tem um dos maiores índices de laqueaduras do mundo, com quase 40% das mulheres em idade reprodutiva esterilizadas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O mais alarmante é que muitas mulheres brasileiras optam pela esterilização no auge de sua capacidade reprodutiva, entre 20 e 30 anos.
Vários fatores podem levar ao arrependimento futuro, principalmente o desejo de novas gestações diante de um novo casamento, o crescimento ou falecimento dos filhos.
Para mulheres mais jovens, com menos de 35 anos, sem qualquer outro fator de infertilidade, a salpingoplastia, isto é, a reversão cirúrgica da laqueadura, pode ser uma alternativa para realizar o sonho da nova gestação.
O sucesso da reversão envolve fatores como o tipo de lesão causada nas trompas e o comprimento da trompa que permanece após a laqueadura. O percentual de sucesso é de até 70% de taxa cumulativa de gravidez, em 1 a 2 anos, dependendo da idade materna.
Mas após a reversão, o risco de gestação ectópica, que ocorre na própria trompa, aumenta cinco vezes, podendo chegar a 7%. Em alguns casos, porém, mesmo reconstituídas, as trompas não recuperam sua função.
Reversão da Laqueadura e Reprodução assistida
Caso a reversão não ocorra com sucesso por algum motivo, ou caso a paciente não se enquadre num contexto em que os médicos optem pela reversão; não é necessário desespero.
A boa notícia é que a medicina reprodutiva oferece cada vez mais sucesso nos tratamentos que buscam nova gravidez em mulheres com laqueadura tubária.
Através da técnica da Fertilização In Vitro (FIV), onde os óvulos são capturados e levados ao laboratório para que sejam fecundados com o sêmen (de um parceiro ou banco de sêmen), a mulher pode realizar o sonho de ser mãe.
Quanto tempo após o parto uma mulher pode realizar a laqueadura?
A laqueadura pode ser realizada imediatamente após o parto cesáreo, pelo mesmo corte feito na barriga, ou após o parto normal através de videolaparoscopia, desde que a grávida tenha manifestado interesse em realizar o procedimento, pelo menos 60 dias antes do parto.
Fazer a laqueadura logo após o parto, pode evitar a necessidade de um novo internamento hospitalar para fazer a cirurgia, reduz o risco associado a aplicação de anestesia, além de poder se feito pela mesma equipe médica que está realizando o parto.
“Ressaltamos, aqui, a importância de essa mulher ter um planejamento familiar antes de tomar essa decisão”, comenta a especialista.
Recuperação
Após a laqueadura, é importante que a mulher tenha alguns cuidados para que sejam evitadas complicações e, para isso, é recomendado evitar ter contato íntimo, realizar tarefas pesadas, como limpar a casa, ou praticar atividade física, por exemplo.
Além disso, durante o período de recuperação, é importante que a mulher fique em repouso e tenha uma alimentação saudável, que ajude na cicatrização. Também é recomendado realizar caminhadas leves, de acordo com a orientação do médico, para favorecer a circulação sanguínea e promover recuperação mais rápida.
No entanto, caso exista algum sangramento anormal ou dor excessiva, é importante comunicar o ginecologista para que seja feita uma avaliação e iniciado tratamento, caso haja necessidade.
A laqueadura é considerada um procedimento seguro, no entanto, assim como outras cirurgias, pode ter riscos, como hemorragia, infecção ou lesões em outros órgãos internos, por exemplo. Qualquer sinal de anormalidade deve ser comunicado aos médicos que acompanham a paciente.
A laqueadura no Brasil
No Brasil, o procedimento de laqueadura é ofertado gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS), em qualquer unidade que ofereça serviço de ginecologia, obstetrícia e/ou maternidade.
De acordo com o Projeto de Lei 390/21, houve redução na idade mínima para esterilização voluntária, de 25 para 21 anos, com capacidade civil plena ou pelo menos, independentemente do número de filhos vivos.
Além disso, a lei define que a solicitante assine um documento que apresenta os riscos e as implicações do procedimento. A cirurgia só pode ser feita 60 dias após a mulher ter expressado o desejo e a paciente precisa passar por um acompanhamento.
Não é mais necessário o consentimento expresso do cônjuge para a realização de laqueadura tubária.
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