O sonho da maternidade nem sempre é um caminho simples. Muitas mulheres se deparam com desafios que dificultam a conquista da gestação e, entre eles, estão os miomas uterinos.
Existe um tipo específico, o mioma submucoso, que apresenta um impacto mais direto na fertilidade, podendo dificultar tanto a gravidez espontânea quanto interferir no sucesso de tratamentos de reprodução assistida, como a fertilização in vitro (FIV).
O que é mioma submucoso?
Os miomas uterinos são tumores benignos formados por tecido muscular e fibroso que se desenvolvem no útero. Embora sejam bastante comuns – estima-se que até 80% das mulheres em idade fértil possam apresentar miomas – nem todos os miomas causam problemas.
Os miomas são classificados de acordo com sua localização no útero: mioma subseroso (cresce na parte externa do útero); mioma intramural (localizado na parede muscular do útero) e mioma submucoso (cresce na camada mais interna do útero, chamada endométrio, podendo projetar-se para dentro da cavidade uterina).
O mioma submucoso é o tipo que mais interfere na fertilidade da mulher, uma vez que ocupa o espaço onde o embrião deveria se implantar.
“O mioma submucoso é o que oferece maior risco para a fertilidade, justamente porque altera diretamente o ambiente da cavidade do útero, dificultando tanto a implantação do embrião quanto a manutenção da gestação”, explica a especialista em reprodução assistida, Dra. Isa Rocha, do IVI Salvador.
Os sintomas do mioma submucoso
Embora em algumas mulheres seja assintomático, o mioma submucoso costuma provocar sintomas mais evidentes que outros tipos de mioma.
Os principais são: sangramento uterino anormal (menstruação muito intensa, prolongada e, em alguns casos, sangramento fora do período menstrual); anemia (decorrente das perdas sanguíneas excessivas); cólicas intensas (dores menstruais mais fortes que o habitual); desconforto pélvico (sensação de peso na região inferior do abdômen) e dificuldade para engravidar (infertilidade ou abortos recorrentes).
Como o mioma submucoso afeta a fertilidade?
O mioma submucoso compromete a fertilidade de diversas maneiras: ele dificulta a implantação embrionária, pois o mioma ocupa espaço dentro da cavidade uterina, prejudicando o local onde o embrião deveria se fixar após a fecundação.
O mioma também altera o endométrio. O crescimento do mioma deforma o endométrio, comprometendo sua receptividade. Isso significa que, mesmo que haja um embrião de boa qualidade, as chances de ele se implantar são menores.
Quando a implantação acontece, aumenta o risco de abortamento. A presença do mioma pode levar a abortos de repetição, devido à falta de espaço adequado ou alterações na vascularização uterina.
Além disso, provoca alterações na contratilidade do útero. Os miomas podem interferir nos movimentos naturais do órgão, prejudicando tanto a condução dos espermatozoides até o óvulo, quanto o transporte do embrião.
Nos casos em que forem identificados mioma submucoso, é essencial avaliar o impacto na cavidade uterina. Quando o mioma compromete esse espaço, ele precisa ser tratado antes de qualquer tentativa de fertilização, seja ela natural ou através da FIV.
Como diagnosticar o mioma submucoso
O diagnóstico é realizado através de exames de imagem, sendo os mais indicados: a ultrassonografia transvaginal (primeiro exame que sugere a presença do mioma); a histerossonografia (ultrassom com infusão de soro na cavidade uterina, que permite avaliar se o mioma deforma a cavidade); a histeroscopia diagnóstica (exame de visualização direta do interior do útero por meio de uma microcâmera, considerado padrão ouro); ou a ressonância magnética pélvica (para casos mais complexos, ajuda na avaliação precisa da localização e do tamanho dos miomas).
Mioma submucoso e Fertilização in Vitro (FIV)
A presença de mioma submucoso é uma questão crucial para quem busca tratamento de reprodução assistida, especialmente a fertilização in vitro.
Se não tratado, esse tipo de mioma pode reduzir as taxas de sucesso da FIV, uma vez que prejudica a implantação do embrião no útero.
“Não basta formar embriões de excelente qualidade no laboratório. Se a cavidade uterina não estiver receptiva, a chance de sucesso da FIV tende a reduzir em relação ao padrão. Por isso, sempre avaliamos a presença de miomas submucosos antes de iniciar o tratamento”, conta a especialista do IVI Salvador.
A depender do tamanho, da localização e do grau de comprometimento da cavidade uterina diante de um diagnóstico de mioma, em alguns casos muito pequenos, que não deformam a cavidade, o tratamento pode prosseguir. No entanto, na maioria dos casos, é recomendado cuidar do mioma antes de fazer a transferência do embrião para o útero.
Como é o tratamento para mioma submucoso?
O tratamento mais eficaz para mioma submucoso é a histeroscopia cirúrgica, procedimento minimamente invasivo que permite remover o mioma por via vaginal, sem cortes no abdômen.
A histeroscopia cirúrgica tem alguns benefícios, como ser um procedimento simples e seguro, onde o paciente tem alta no mesmo dia e preserva o útero e a fertilidade. Além disso, a recuperação é bem rápida.
Após a retirada do mioma, geralmente recomenda-se aguardar entre um e três ciclos menstruais antes de iniciar a FIV, dependendo do quadro de cada paciente.
Em alguns casos muito específicos, podem ser indicados tratamentos medicamentosos temporários, para a redução do tamanho do mioma antes da cirurgia, mas isso é uma conduta menos frequente no mioma submucoso.
Quais as chances de gravidez após o tratamento?
As chances de gravidez aumentam significativamente após a retirada do mioma submucoso. Estudos mostram que, para mulheres que não conseguiam engravidar devido ao mioma, as taxas de gravidez podem chegar a 60% após a correção cirúrgica, seja por gestação natural ou por meio da FIV.
O tratamento do mioma submucoso representa, muitas vezes, um divisor de águas no caminho da maternidade. Depois da histeroscopia, a paciente não só melhora a saúde uterina como também amplia muito as chances de sucesso na FIV
O mioma submucoso tem risco de voltar?
Embora a chance de recorrência do mioma submucoso seja menor do que em outros tipos de mioma, ele pode, sim, voltar a se desenvolver ao longo dos anos, especialmente em mulheres mais jovens e com predisposição genética.
Por isso, é fundamental realizar um acompanhamento periódico, principalmente para aquelas mulheres que planejam ter mais uma gestação no futuro.
Comentários estão fechados.