A criptorquidia é uma condição em que um ou ambos os testículos não descem para a bolsa escrotal antes do nascimento. Essa condição, frequentemente diagnosticada na infância, deve ser corrigida precocemente, geralmente até o primeiro ano de vida.
Ao apalpar a bolsa escrotal desses pacientes, não é possível sentir os testículos e, em alguns casos, é possível notar visivelmente sua ausência.
É uma alteração muito comum entre os bebês prematuros, sendo 45% de incidência nas crianças nascidas prematuramente, contra 5% das nascidas a tempo. De acordo com a Sociedade Brasileira de urologia (SBU), a criptorquidia é uma das anomalias genitais mais comuns entre os homens. Ela pode comprometer a viabilidade da função germinativa.
Diferente das mulheres, que apresentam os ovários no mesmo lugar por toda a vida, os testículos precisam atravessar o canal inguinal e ir até a bolsa escrotal. Esse processo é chamado de migração testicular e é muito importante para a produção dos espermatozoides.
A criptorquidia pode ser bilateral, quando ambos os testículos estão ausentes, ou unilateral, quando apenas o testículo de um dos lados não desceu. Contudo, muitos homens adultos descobrem que apresentaram criptorquidia apenas tardiamente, seja em consultas médicas ou devido a problemas de saúde associados.
Homens que tiveram criptorquidia, especialmente se não houve correção cirúrgica precoce, podem apresentar alterações significativas no volume testicular, na produção de espermatozoides e aumento do risco para câncer testicular.
Causa e Sintomas
Não se conhecem, exatamente, quais as causas da criptorquidia. Acredita-se que a condição possa estar associada com o nascimento prematuro do bebê ou mesmo com o baixo peso na hora de nascer.
Em cerca da metade dos casos o testículo pode completar sua descida até o escroto após o nascimento, sendo que com um ano de idade, apenas 1% dos meninos têm criptorquidia.
O principal sintoma é a ausência do testículo na bolsa escrotal, podendo ser notada ao apalpar ou até mesmo, ao observar com atenção essa parte do corpo do paciente.
Alguns pacientes podem sentir dor, caso sejam acometidos por um processo inflamatório nos testículos, mas isso acontece raramente.
Tratamento da criptorquidia
Na maioria dos casos, a criptorquidia não requer tratamento, pois, os testículos do paciente acabam descendo para a bolsa escrotal com o passar dos meses.
Porém, se isso não acontecer, ou se permanecer por um longo período, podem ser realizados procedimentos cirúrgicos no paciente, para que o testículo seja posicionado corretamente na bolsa escrotal; ou hormonioterapia.
Geralmente, esse procedimento cirúrgico deve ser feito antes da criança completar dois anos de idade. Após o tratamento, o testículo fica inicialmente inchado devido ao trauma cirúrgico, readquirindo tamanho normal pouco tempo depois, e a seguir desenvolvendo-se normalmente com a idade.
Em alguns casos com atrofia testicular já presente antes da cirurgia, a diferença de tamanho pode perpetuar-se, mesmo estando o testículo posicionado corretamente no saco escrotal.
O tratamento com hormônio gonadotropina coriônica humana (HCG), em doses apropriadas para a idade e peso da criança, pode favorecer a descida dos testículos, sendo mais útil nos casos em que a posição dos mesmos não é muito distante do escroto. Mesmo assim, a descida completa é observada em apenas 15 a 20% dos casos de criptorquidia. Por outro lado, para os testículos mais altos, bem como nos ectópicos, recomenda-se a cirurgia, denominada orquipexia.
É recomendável que os pais (e as crianças maiores) examinem regularmente os testículos tratados, observando eventuais modificações no tamanho e na consistência deles.
Criptorquidia e Infertilidade
A produção futura de espermatozoides depende da normalidade do tecido testicular, sendo que nos casos unilaterais quase sempre é normal, enquanto nos casos bilaterais, a possibilidade de infertilidade é maior.
Estudos mostram que a criptorquidia não corrigida está associada a uma menor contagem de espermatozoides e a uma maior dificuldade para conceber filhos de forma natural. Mesmo em homens que realizaram a cirurgia tardiamente, a produção espermática pode não atingir os níveis ideais.
Pessoas que contam somente com um testículo não descido têm uma taxa de fertilidade menor, principalmente quando comparados com pacientes com os dois testículos na posição correta. Já os meninos que apresentam criptorquidia bilateral podem ter a taxa de paternidade comprometida.
“Após a cirurgia, é necessário que o acompanhamento seja feito por um urologista, para garantir o desenvolvimento correto dos testículos, uma vez que a criptorquidia pode afetar a produção de espermatozoides”, conta o médico Agnaldo Viana, especialista em reprodução humana do IVI Salvador.
Volume testicular, produção de espermatozoides e risco de Câncer
O criptorquidismo pode ser classificado de duas formas. O congênito ocorre durante o nascimento. Já o adquirido ocorre após o nascimento, com o posicionamento inadequado dos testículos.
Apesar de assintomática, a criptorquidia pode resultar em diversas complicações.
Quando o testículo não desce para a bolsa escrotal no período correto, ele fica exposto a temperaturas mais altas dentro do abdômen ou da região inguinal. Essa exposição prolongada pode levar a danos permanentes nos tecidos testiculares. Como consequência, muitos homens podem apresentar testículos de tamanho reduzido (hipotrofia testicular) e prejuízo na produção de espermatozoides. Esses danos impactam diretamente a fertilidade.
Entre os problemas que a doença pode causar, estão: orquite; infecção dos testículos; infertilidade e hérnias de testículo.
Outro aspecto importante é o risco aumentado de câncer testicular. Homens com histórico de criptorquidia têm até 10 vezes mais chance de desenvolver tumores testiculares, mesmo que a correção tenha sido realizada. Esse risco é ainda maior quando a cirurgia ocorre após os dois anos de idade ou em casos em que a condição permaneceu não tratada na vida adulta.
Por esse motivo, o autoexame regular dos testículos e consultas frequentes ao urologista são medidas fundamentais para o diagnóstico precoce. É essencial agendar uma consulta com um especialista.
Exames como ultrassom testicular e análises seminais podem fornecer informações importantes sobre a saúde dos testículos e a função reprodutiva. Além disso, o acompanhamento regular ajuda a monitorar possíveis alterações, reduzindo o impacto de problemas mais graves.
Criptorquidia não é apenas uma condição da infância. Suas consequências podem acompanhar o homem ao longo da vida. Por isso, cuidar da sua saúde é investir na qualidade de vida.
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