O Outubro Rosa é conhecido mundialmente como o mês de conscientização sobre o câncer de mama. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), trata-se do tipo mais comum entre as mulheres no Brasil.
A estimativa é de mais de 73 mil novos casos anualmente, no período entre os anos de 2023 e 2025, o que corresponde a uma taxa de incidência de 41,89 casos por 100 mil mulheres.
Para além da conscientização, prevenção e diagnóstico precoce, é igualmente importante falar sobre saúde reprodutiva e o planejamento familiar de pacientes diagnosticadas com câncer de mama.
Receber esse diagnóstico representa, para muitas mulheres, uma ruptura nos planos de vida, trazendo incertezas sobre o futuro e, em especial, sobre a possibilidade de realizar o sonho da maternidade.
Nesse cenário, a medicina reprodutiva surge como uma grande aliada, oferecendo alternativas que permitem preservar a fertilidade antes do início de tratamentos agressivos, como quimioterapia e radioterapia.
Fertilidade e diagnóstico de câncer: por que essa conversa é necessária?
O impacto do câncer vai além das questões físicas e emocionais, podendo comprometer também a vida reprodutiva da paciente. Tratamentos como quimioterapia, radioterapia e determinados medicamentos reduzem a quantidade e a qualidade dos óvulos, dificultando uma gravidez futura.
Esse risco de infertilidade é motivo de ansiedade e preocupação, sobretudo entre mulheres em idade fértil que ainda não tiveram filhos ou desejam adiar a maternidade – sobretudo nesse contexto de descoberta da doença, vivendo um período cheio de incertezas.
Discutir a preservação da fertilidade nesse caso é, portanto, mais do que uma questão médica: é também uma forma de dar autonomia e esperança a essas mulheres.
O congelamento de óvulos se apresenta como alternativa segura e moderna, permitindo que a maternidade seja adiada sem abrir mão da qualidade dos gametas e cuidando da saúde, focando, naquele momento, no que mais importa, que é a busca pela cura do câncer.
Graças à tecnologia da vitrificação, os óvulos podem ser conservados por anos e utilizados posteriormente, através do uso de técnicas de reprodução assistida.
Quem pode se beneficiar do congelamento de óvulos?
O congelamento de óvulos é especialmente indicado para aquelas mulheres que estão prestes a iniciar tratamentos capazes de afetar a função ovariana e que ainda planejam ter filhos no futuro.
A decisão deve ser individualizada e levar em conta fatores como idade, tipo de câncer descoberto, urgência do tratamento da doença e os desejos pessoais da paciente.
Por isso, a avaliação com um médico especialista em reprodução humana é fundamental. Esse acompanhamento permite traçar um plano seguro e eficaz, que inclui exames prévios, como análises hormonais e ultrassonografia, além da escolha de uma clínica com equipe capaz de alinhar com o oncologista de modo a preservar a fertilidade sem afetar ou atrasar a urgência do tratamento oncológico.
A comunicação entre médicos oncologistas e especialistas em reprodução será, portanto, essencial para que o tratamento oncológico não sofra atrasos e cada etapa seja conduzida de forma planejada e segura, trazendo para a paciente o resultado efetivo esperado, em ambas as esferas.
Outro aspecto que merece atenção é o emocional. O congelamento de óvulos costuma ocorrer em um momento de fragilidade, marcado por ansiedade e incertezas. O apoio psicológico é um recurso importante para auxiliar na tomada de decisões conscientes e trazer mais tranquilidade para lidar tanto com o tratamento do câncer quanto com a preservação da fertilidade.
Como funciona o processo de congelamento de óvulos?
O procedimento segue etapas que combinam ciência, tecnologia e cuidado individualizado. Inicialmente, realiza-se uma avaliação médica completa, incluindo exames para verificar a saúde reprodutiva e hormonal da paciente.
Em seguida, tem início a estimulação ovariana, na qual medicamentos induzem o desenvolvimento de múltiplos óvulos maduros em um único ciclo. Durante essa fase, há monitoramento frequente com ultrassons e exames laboratoriais.
A coleta dos óvulos é feita em um procedimento rápido, geralmente sob sedação, e o material obtido é submetido à vitrificação, técnica de congelamento que garante preservação a longo prazo.
É necessário que o congelamento seja realizado antes do início da quimioterapia ou radioterapia. Quanto mais cedo o procedimento ocorrer após o diagnóstico da doença, maiores são as chances de preservar óvulos em quantidade e qualidade adequadas.
Apesar do tempo curto entre diagnóstico e início do tratamento, o congelamento pode ser planejado de forma a não comprometer a saúde geral da paciente nem atrasar seu tratamento oncológico.
“A preservação da fertilidade por meio do congelamento de óvulos é um dos avanços mais importantes da medicina reprodutiva. Ela representa uma oportunidade concreta de manter a possibilidade da maternidade mesmo diante de um diagnóstico de câncer. Orientar as pacientes sobre essa alternativa é oferecer esperança, autonomia e futuro. A medicina reprodutiva, ao lado da oncologia, garante que o desejo de ser mãe não precise ser interrompido, proporcionando segurança e confiança para as mulheres em um dos momentos mais delicados da vida”, destaca Dra. Genevieve Coelho, Diretora Médica do IVI Salvador.
Mitos e verdades sobre o congelamento de óvulos
Apesar de já ser consolidado, o procedimento de congelamento de óvulos ainda é cercado por muitos mitos.
Um dos mais comuns é acreditar que o congelamento garante uma gravidez no futuro. Na realidade, ele aumenta as chances da gestação, mantendo a qualidade do óvulo, equivalente ao momento em que ele foi vitrificado.
Para que a gestação ocorra, existem outros fatores que se combinam à qualidade/idade do óvulo. Fatores que vão desde o sêmen do parceiro até o estilo de vida da paciente.
Outro mito frequente é o de que o procedimento atrasa o início do tratamento contra o câncer, quando, com planejamento adequado, é possível realizar a criopreservação de forma rápida e segura.
Também é importante entender que nem todas as pacientes oncológicas precisam necessariamente realizar o procedimento, já que cada caso deve ser avaliado individualmente. É também importante dizer que não apenas mulheres com câncer podem congelar óvulos para preservar fertilidade. Qualquer mulher que queira postergar a maternidade, também pode aderir ao procedimento.
A idade é um outro fator determinante para o sucesso da técnica. Quanto mais jovem a paciente, maior a quantidade e qualidade dos óvulos, o que eleva significativamente as chances de uma gestação bem-sucedida no futuro.
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