
Toda vez que um casal não consegue engravidar, a mulher, na maioria das vezes, procura seu ginecologista. No entanto, o homem também pode apresentar problemas em até metade dos casos.
Dentre os problemas mais frequentes, a varicocele, sem dúvida, é o mais preocupante. Muitas vezes, o diagnóstico precoce é importante, pois seu aparecimento se dá entre os 14 e 15 anos de idade.
A varicocele é a dilatação das veias do testículo. O processo é semelhante ao que acontece nas varizes de outros locais do corpo: há uma insuficiência das veias de drenagem dos testículos, que leva a um represamento sanguíneo e a uma dilatação venosa com refluxo sanguíneo.
A varicocele pode provocar prejuízo na produção de espermatozoides e em última consequência, a infertilidade.
Ela chega a estar presente em 15% da população masculina e em aproximadamente 40% dos homens com infertilidade primária, ou seja, aqueles que nunca tiveram filhos.
Esse número pode aumentar para até 80% dos homens com diagnóstico de infertilidade secundária, ou seja, os que já tiveram filhos, mas não conseguem mais engravidar por perda da qualidade do sêmen.
“A varicocele pode aparecer junto com a puberdade. Por isso, o importante é o acompanhamento do adolescente pelo especialista desde o início da puberdade. Isso leva a uma detecção precoce da doença e um tratamento muito mais simples”, explica Dr. Fábio Vilela, médico do IVI Salvador.
O que causa a varicocele
A varicocele geralmente é causada pela ausência ou insuficiência congênita das válvulas da veia espermática interna. Ou, pela dificuldade na drenagem venosa por obstrução ou compressão do sistema venoso. Isso leva ao acúmulo de sangue e à dilatação das veias.
Ela é ocasionada pela incompetência ou até mesmo pela ausência congênita das válvulas nas veias espermáticas. Isso ocasiona um refluxo do sangue venoso e a dilatação dessas veias, além do espessamento de sua parede muscular.
Os pacientes com diagnóstico de varicocele muitas vezes costumam também perceber a presença de varizes nas pernas e até mesmo identificar a doença hemorroidária, deixando evidente que as alterações venosas são sistêmicas e não somente restritas às veias do saco escrotal.
Pode existir também um fator hereditário a ser considerado. É muito comum na história familiar os pais também terem apresentado varicocele no passado.
Como diagnosticar
A varicocele pode ser identificada com a anamnese, seguida do exame físico e da bolsa escrotal. De acordo com o grau de desenvolvimento, as varicoceles são classificadas em três graus diferentes.
Grau I — Aquelas que são palpáveis apenas com a manobra de Valsalva (técnica de respiração com esforço para aumentar a pressão na região testicular);
Grau II — Palpáveis sem nenhuma técnica;
Grau III — Detectadas visualmente e palpadas com facilidade.
Durante o exame, os testículos são sentidos enquanto o homem está em pé. Dependendo do grau da varicocele, é possível sentir e até mesmo ver as veias dilatadas.
Quando houver dúvidas em relação ao diagnóstico, principalmente das varicoceles menores, é indicado o exame complementar de ultrassonografia com Doppler.
Varicocele e infertilidade
O testículo, para o seu perfeito funcionamento, precisa estar sempre numa temperatura mais baixa que a temperatura corpórea. Para que isso ocorra, a regulação térmica ocorre basicamente por três mecanismos distintos. O primeiro, e certamente o mais importante, é a função das veias saudáveis (sem varizes) em resfriar a temperatura do sangue quente que chega pela artéria testicular.
Quando essas veias estão dilatadas e varicosas, elas perdem a função de resfriamento, gerando um aumento crônico da temperatura testicular.
O segundo mecanismo existente é a presença de uma bolsa testicular pendular e de musculatura de dartos e cremáster, mantendo os testículos mais próximos ou mais afastados da área abdominal, dependendo da temperatura existente.
As glândulas sudoríparas (que promovem a eliminação de suor) presentes na bolsa testicular compreendem o terceiro mecanismo, eliminando o calor necessário para que o testículo permaneça em sua temperatura ideal.
O calor em excesso nos testículos, promovido pela varicocele, gera um aumento na produção de radicais livres. Esse ambiente testicular alterado traz prejuízos importantes à produção e à qualidade dos espermatozoides.
No espermograma isso pode ser constatado pela piora de todos os parâmetros seminais. E na parte clínica isso pode ser evidenciado pela dificuldade do homem em engravidar sua parceira.
É possível prevenir a doença?
Não é possível prevenir o aparecimento da varicocele, pois é uma questão hereditária associada à predisposição pessoal para o aparecimento das varizes.
Entretanto, o que se pode fazer – e deve ser feito – é prevenir os efeitos negativos que a doença pode trazer para a produção de espermatozoides e, por consequência, para o potencial de fertilidade futuro.
Sabe-se que a varicocele é uma doença tempo-dependente, ou seja: quanto mais tempo a varicocele agir, pior será para a função do testículo em produzir espermatozoides.
Outra característica importante é que o aparecimento da varicocele ocorre junto com a puberdade, ao redor dos 12-13 anos. Desta forma, o acompanhamento do adolescente pelo urologista desde o início da puberdade pode levar a uma detecção precoce da doença. Especialmente se já houver casos na família.
O tratamento da varicocele
A varicocele pode causar infertilidade, porém é tratável. O tratamento pode ser medicamentoso ou cirúrgico. A segunda opção, geralmente é necessária para os casos de infertilidade, atrofia testicular significativa, varicocele dolorosa e/ou desconforto persistente após tentativas de abordagens não cirúrgicas, como: medicamentos anti-inflamatórios.
O tratamento cirúrgico da varicocele, feito por microcirurgia subinguinal, visa corrigir as veias afetadas para redirecionar o fluxo sanguíneo em direção às veias normais.
A cirurgia pode ser feita aberta ou laparoscópica. Com o uso de um microscópio cirúrgico, é possível a identificação precisa de estruturas críticas que precisam ser preservadas, como a artéria testicular.
A dor após a cirurgia é leve e, muitas vezes, o paciente já pode retornar à maioria das atividades normais dentro de dois dias. A cirurgia possui uma alta taxa de sucesso e pode eliminar mais de 90% da varicocele.
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